Ainda 4 de Fevereiro, New York City, 21:10am
É
tão confuso. Há dias atrás, estaria em um quarto pequeno e simples.
Provavelmente, estaria ouvindo gritos e insultos. Mas agora eu me
encontrava aos risos com um rapaz. Era tão estranho. Sentia-me tão
estranha, na verdade tão diferente e ao mesmo tempo tão igual. Ele era
engraçado e intrometido. Por momentos aquela não era a velha Hanna. A
garota amargurada e sofrida. Uma garota nova estava ali. Sorridente e
divertida. Ou quase divertida. Mesmo não querendo ir, logo de início,
havia me arrependido de ter pensado dessa maneira. Ele conseguia ter um
poder sobre mim. Talvez sua presença me fizesse bem de alguma forma. E
realmente fazia.
Lembro
como se fosse hoje o dia em que encontrei um garoto parecido. Era uma
tarde de domingo, tinha apenas doze anos e três meses de vida. Meus pais
brigavam mais uma vez. Como uma criança assustada, rumei para fora de
casa. Fugi. Entre lágrimas encontrei um garotinho, ele parecia ter a
mesma idade. Viu-me chorar e procurou me ajudar. De certa forma, o rapaz
a minha frente, me lembrava o mesmo garoto que conheci há anos atrás.
Era realmente difícil esquecer os olhos castanhos e inocentes que,
olhava-me preocupado, e fazia tudo para arrancar-me um sorriso. Eu
também não tinha perguntado o nome dele, porém nunca mais o vi depois
daquele dia. Ele era especial. Entendeu meus sentimentos, chorou comigo e
animou meu coração. Depois fui presenteada pelo menino com uma pelúcia simples
que ele carregava em uma das sacolas que trazia em mãos. Foi o dia mais
feliz da minha vida. Aquele garotinho, com seu jeito inocente e sincero
alegrou meu coração, como nenhuma outra pessoa fez até hoje. Nem mesmo
minha melhor amiga. E Justin, de uma forma muito intensa, lembrava o
garoto de doze anos idade que conheci há anos atrás. Eu gostaria de
encontrá-lo novamente. Gostaria de conhecê-lo melhor e manter contato.
Mas a essa altura, sem nem mesmo ter perguntado o nome dele, minhas
chances de encontrá-lo eram quase nulas.
-
Então foi assim que beijei um peixe morto. – contava ele entre algumas
gargalhadas. De fato, ele era maluco. Quem em sã consciência beijaria um
peixe? Ainda por cima, estando morto? Eu com certeza jamais faria
aquilo. Mas Justin foi capaz de fazer. E lá se vão as minhas esperanças
de detestar o pequeno encontro entre amigos. Se é que realmente podemos
chamar de amigos.
-
Você realmente é maluco! Suas namoradas sabiam que você tinha beijado
um peixe morto? – questionei curiosa, deixando os braços sobre a mesa. O
rapaz riu, arrumando-se melhor a cadeira, preparando-se para sua
resposta. Outro ponto que vale ressaltar. Ele parece ser impulsivo, o
que de fato em algumas ocasiões não se poderia ser considerada uma
virtude. Porém, em uma rápida análise, percebi que ele era atencioso,
amoroso e confiável, apesar de ter como piores defeitos a impaciência e a
impulsividade. Mesmo me divertindo, meu lado observador avaliava-o o
tempo inteiro. Cada movimento, capa gesto e palavra dita, ganhava um
novo significado. Ele era tão brincalhão e educado que tornou o jantar
bem mais agradável do que imaginei.
- Sim, eu contei para elas. – respondeu sorridente.
-
E elas beijavam você assim mesmo? Mas que nojo! Eu jamais beijaria você
depois de saber isso. É realmente nojento! – brinquei tomando um gole
da bebida, vendo-o rir. Mordendo os lábios, ele apoiou os braços sobre a
mesa e com uma cara engraçada, continuou a falar. Bobagens, diria.
-
É mesmo? Eu duvido muito... Sou um homem irresistível! As mulheres me
amam, são loucas por mim. – brincou em resposta, juntando os lábios como
se estivesse beijando alguém. Inclinei-me sobre a cadeira, e de mãos na
barriga me pus a rir. Abusado, sem vergonha e doido. Essas pequenas
palavras o descreviam por completo. Era tão bobo e completamente sem
graça. Mas, ainda sim eu ri. Ri como nunca ri. Ri, do jeito que um
garotinho conseguiu me fazer sorrir. Era tão... Esquisito. Aquela não
era a Hanna que conhecia. O que Justin fez com ela?
- Elas podem até ser, mas eu jamais beijaria você. Lábios de peixe. – retruquei entre risos.
-
É mesmo? É o que veremos Menina Risadinha. – ameaçou se aproximar,
arrastando a cadeira para perto de mim. Pus as mãos sobre a barriga,
sabendo o que ele tentaria. Sim, parecíamos duas crianças. Mas eu também
gostava disso.
-
Só não vou fazer você morrer de amores por mim, agora, porque tem
muitas pessoas aqui. Caso contrário, você ficaria louca para me dar umas
beijocas. – continuou.
- Você é muito bobo!
-
Então o que acha de falar um pouco sobre você? Tudo que sei é que se
chama Hanna Evans e que é minha colega de classe. Conte-me um pouco
sobre você. – pediu curioso, e meu sorriso morreu. Mordi os lábios,
arrumando o cabelo. Eu sabia que essa pergunta viria. Mas não sabia que
viria tão depressa.
-
Do contrario da sua maravilhosa como beijador de peixes... A minha é um
tanto... Chata. Se posso dizer assim. Tudo o que você precisa saber é
que sou uma garota que está passando por alguns problemas, e... Bem...
Que eu sou muito chata na maioria das vezes. Eu tenho muitos problemas,
problemas que você realmente não vai querer saber.
- Sim eu quero.
-
Não você não quer... Eu não sou essa garota sorridente e brincalhona,
não sou essa garota que você está vendo agora... Por alguma razão, com
você eu consigo sorrir, mas nem sempre é assim.
-
Mas você é divertida! Não consigo acreditar que uma garota como você
tem problemas, mas... Se precisar da minha ajuda, é só pedir.
- Você só me conhece há dois dias e já quer me ajudar?
- Serão três dias a partir da meia noite. – brincou piscando de canto.
- Você é doido. – neguei.
-
Qual é? O peixe não achou isso!... Você sabia que eu já grampeei minha
orelha? – perguntou Justin. E por mais uma vez ele me fez rir. Rir
espontaneamente. Esse garoto é impossível! Como ele consegue? Por mais
que tente permanecer séria, ele faz ou, fala algo que me arranca
risadas. Eu preciso saber quem realmente é esse cara, e porque tem esse
efeito sobre mim. E isso tende ser o mais rápido possível.
[...]
Escutem Enchanted - Taylor S.
-
É uma bela vista. O Central Park é ainda mais encantador à noite. –
comentou Justin, apoiando-se sobre a pequena ponte em que estávamos. Não
era tarde, mas era escuro o suficiente para ter uma bela visão da lua
cheia. Estava sendo incrível, preciso admitir.
-
Até que sair com um estranho maluco, que beija peixes mortos e grampeia
a própria orelha não é tão ruim quanto pensei. – comentei e ele riu em
encarando. Seus olhos cor de mel pareciam ainda mais expressivos sobre a
luz do luar. Sua face era iluminada pela lua e o sorriso em seu rosto
não negava o quão alegre estava. Céus, porque ele tende parecer ainda
mais angelical?
- Viu só? Sou um rapaz de muitos encantos. - deu de ombros. Ri por mais uma vez.
- Tem tantos encantos, que beija peixes. – brinquei fazendo-o me encarar de olhos arregalados, mesmo com um sorriso nos lábios.
- Vai usar isso contra mim para sempre? – riu.
- Talvez... Mas, você tem irmãos?
- Não contei?
- Não.
-
Tenho dois irmãos. Eu não sei se mencionei, mas meus pais são
separados. Apesar de serem sócios e ótimos amigos. Meu pai, Jeremy
casou-se novamente. Teve dois filhos. A mais velha é Jazzy, quem tem
três anos, o mais jovem é Jaxon. Tem dois anos e já o considero
mulherengo. Mal vê uma garotinha de fraldas e abre um grande e lindo
sorriso.
- Alguém precisa avisá-lo de que ele ainda usa fraldas. – comentei em meio ao riso.
-
Você tem razão... E você? Tem irmãos, primos e primas? – questionou
curioso. Neguei mais uma vez. Na verdade eu tinha uma família grande.
Mas nenhum deles valia à pena. Meus tios eram envolvidos com drogas e
tráfico humano. Meus primos trabalhavam com os pais, e as primas
esbanjavam dinheiro e poder por onde passavam. Não eram humildes, e
também não as culparia, com a vida que tem, com os pais que tem é obvio
que isso fosse acontecer. Minha mãe, Holy, foi à única filha que não se
aliou aos bandidos. Mas em troca... Hum. Eu agradecia até hoje por não
ter irmãos. Seria mais um sofrendo por causa deles. Já basta.
-
Eu sei que deve ser um pouco chato... Estamos falando tanto de você e
nenhum pouco sobre mim. Mas espero que entenda que é algo realmente
pessoal. Talvez, eu dia se nos tornarmos mais próximos, eu conte tudo o
que precisar saber.
-
Então é melhor escolher bem as palavras a partir de agora. Não vou sair
do seu pé. – brincou tocando levemente meu braço. Sorri abaixando a
cabeça. Era realmente embaraçoso.
- Mas tem algo sobre você que posso saber no momento?
- Hum... Bem... Eu gosto de sorvete e de nachos. – afirmei. Justin pôs a mão na barriga enquanto gargalhava.
- É sério? – perguntou entre risos.
-
É verdade! Outra coisa que você pode saber sobre mim, é que eu gosto
dos Backstreet Boys e tenho uma queda pelo Johnny Depp. – dei de ombros,
vendo o garoto a minha frente se ‘acabar’ de rir. Apesar de não
entender o motivo dos risos, o acompanhei nas gargalhadas. Eu realmente
não sabia como suas namoradas conversavam com ele. Afinal de contas, na
maior parte do tempo ele ria. E fazia os outros rirem também. Sim, ele é
estranho. Apesar disso, gostava do som da sua risada e o jeito como se
debruçava para rir. Eu pensei que... Na verdade nem sei o que estou
pensando! Não era para estar rindo desse jeito. Ou deixá-lo livre para
me fazer sorrir.
-
E eu sou louco pela Beyoncé... Oh sim, um dos amores da minha vida. Eu
sou o namorado dela... Na verdade, o pôster está levemente amasso, mas
não é nada que não se possa dar um jeito. – brincou mais uma vez. E
como eu disse... Espere, um momento. Ele namora um pôster?
- Isso é sério?
- Tudo bem, não precisa ficar preocupada! Ainda dá pra usar o pôster! – afirmou sorridente. Neguei. Realmente louco.
-
Isso é bom, mas não a sufoque, sim?... Mas... Você já esteve aqui
antes? Mesmo que sendo um passeio rápido? – perguntei. Curiosidade é meu
sobrenome. Já me encrenquei muito com isso. Porém era algo que não
podia evitar. E também jamais mudaria.
-
Em New York? Sim, mas não fiquei por muito tempo, eu estava com meus
pais. Tinha doze anos... Sabe, eu lembro que enquanto eu brincava no
parque, vi uma garotinha chorando encostada em uma árvore... Eu andei
até ela e fiz de tudo para reanimá-la. Ela tinha o olhar tão triste...
Como o seu. – comentou baixo. Ao notar que estávamos frente a frente,
pude me permitir engolir a seco. Era proximidade demais. Eu precisava
pará-lo, se caso ele fosse fazer o que estou pensando.
-
Como o meu? – questionei dando um pequeno passo para trás. O que não
foi suficiente para afastá-lo pro completo de mim. Meu corpo já não
obedecia aos meus comandos, quando o senti agarrar minha cintura e colar
meu corpo no seu. Com a mão livre ele acariciou meu rosto fixando seus
olhos nos meus. Vamos lá, Hanna. Pare esse garoto enquanto ainda há
tempo.
- É... Ela tinha os mesmos olhos verdes, e a mesma voz quando ria... Eu não perguntei o nome dela...
-
Porque não?... – perguntei baixo. A única maneira para não deixá-lo
prosseguir era manter uma conversa. Ou talvez estivesse perdida. Mesmo
querendo, não encontrava forças para sair de seus braços que me prendiam
ao seu corpo. Sabia o que viria a seguir... Mas era tão difícil sair
dali. E honestamente, não queria.
-
Porque eu estava encantado demais para perguntar... – respondeu em
mesmo tom aproximando ainda mais seu rosto do meu. Nervosa, abri a boca
para falar algo que o impedisse de continuar. Foi uma má escolha. Ele
fechou os olhos e tomou meus lábios, e aproveitando que estavam abertos,
deixou a língua atrevida brincar carinhosamente com a minha.
Por
momentos pensei que estava louca, mas era inevitável recusar seu beijo.
Era algo diferente. Como se tudo estivesse acontecendo a nosso favor.
Talvez fosse loucura, mas tinha a quase certeza de que nenhum outro
rapaz me fez sentir única com um simples beijo. Para meu espanto, também
não queria largá-lo. Precisava desse carinho. Minhas mãos nunca tocaram
cabelos tão suaves, nunca acariciaram uma pele tão macia e lábios tão
maravilhosos e de perfeito encaixe nos meus. Podia senti-lo me apertar
ainda mais contra seu corpo. Nunca foi beijada dessa maneira. Nunca me
senti tão protegida e feliz. Uma vez, ouvi minha avó dizer que conheceu
meu avô enquanto comprava um filhote de Yorkshire para um sobrinho.
Disse que foi amor a primeira vista. Sempre achei bobagem. Eu não
acreditava em amor a primeira vista... Para ser sincera, nunca acreditei
no amor, e ainda não acredito. Ou que ele fosse algo bom. Porque na
maioria das vezes ele causava dor.
Meus
avós, que Deus os tenha, tiveram sorte. Estavam juntos a mais de
cinqüenta anos. Ele ainda sentia ciúmes dela. Ela ainda sorria boba para
ele. Era tão lindo. Pensava por várias vezes se teria a mesma sorte, se
teria um amor para a vida inteira. Mas a cada ano que se passava,
sentia que aquilo era cada vez mais distante. Até me dar conta de que
nunca seria amada de verdade. Mas eu não entendia. Eu não queria
beijá-lo, mas também não queria largá-lo. Talvez fosse uma força maior
que me impedia de fazê-lo. Seu beijo era maravilhoso. Seus lábios eram
gentis, exploravam minha boca sem pressa. Embalados em um ritmo
perfeito. Abri os olhos lentamente ao fim do beijo. Eu mal o conhecia e
já o tinha beijado. Não seria diferente dos garotos que beijo na balada,
por uma única exceção. Eu o veria novamente.
-
Isso não deveria ter acontecido... – pronunciei baixo, visivelmente
atordoada. Meus olhos estavam fixos em sua boca, agora, vermelha e
levemente inchada. Seu perfume era único. Beijá-lo era uma péssima
idéia. Mas era tão bom...
- Me desculpe, Hanna... – disse baixo. Ainda levada pelo momento, puxei seu rosto para o meu. Seus
lábios estavam nos meus, em uma dança maravilhosa. Sentia-o puxar-me
ainda mais para si. Meus olhos estavam fechados e o coração pulsava
descompassado no peito. O abraçava cada vez mais a mim. Era loucura.
Sentia-me como se estivesse flutuando, e mesmo sabendo que cairia,
desejava voar ainda mais alto pelos lábios envolventes de Justin.
Abigail estava certa quando comentou que nos beijaríamos. Ela só não
sabia o quão maravilhoso estava sendo. E novamente, era a pequenina
garotinha de doze anos, que dormia agarrada a suas bonecas, que esperava
pelo seu príncipe encantado... Príncipe que nunca veio. Ao abrir os
olhos por mais uma vez, parti o beijo. E tomando um choque de realidade,
percebi que aquilo jamais deveria ter acontecido. A culpa não era só
dele. Eu o beijei novamente, afinal. Deveria tê-lo impedido enquanto
ainda havia tempo. Na verdade, a situação não deveria, nunca, ter
chegado a esse extremo. E se ele acumular impressões erradas?
Interpretar o acontecido mais do que deveria? É Hanna, você é uma
perfeita idiota!
-
Me desculpe... Oh céus... – falei envergonhada. Passei a mão pelos
cabelos, saindo de seus braços. Andei até ouvi-lo chamar, quando já
estava em pé sobre o gramado. E lá vamos nós...
-
Espere, a culpa não foi sua é que... Eu não deveria... Tudo bem serei
sincero. Eu queria beijar você, e o momento ajudou bastante. Mas se você
não gostou, eu peço perdão. Prometo que não se repetirá...
-
A culpa não foi apenas sua, eu... Eu também quis beijá-lo. Mas acho que
não deveria ter acontecido. Não quero que pense errado. Não sou o tipo
de garota que tem uma vida feliz e que é doce o tempo inteiro. Muito
menos sou alguém que está à procura da pessoa ideal. – revelei
virando-me para ele. Agora a minha frente, de mãos no bolso, ele
suspirou encarando meus olhos.
- Então foi apenas um beijo?
-
Apenas um beijo. – respondi e ele suspirou mais uma vez. Estava certa
quando pensei que ele interpretaria o que aconteceu além do que deveria.
Parabéns Hanna!
- Posso ao menos ser seu amigo?
- Porque quer tanto ser meu amigo? O que te atrai em mim? O que faz você querer ser especial na minha vida?
-
Por que você é diferente. Eu gosto do seu jeito de ser, e gosto do
modo de ver a vida e as pessoas, apesar de não concordar com algumas
coisas. Eu não me importaria que me chamasse de Lábios de Peixe. É até
engraçado vindo de você.
- Então quer mesmo ser meu amigo, mesmo sendo tão chata?
-
Você não é chata. – disse rápido o que me fez sorrir. Ele não me acha
chata? Nossa... Ele precisa de mais de ajuda do que imaginei.
-
É isso mesmo que você quer? – continuei vendo-o assentir positivo com
um sorriso. Virei novamente, retomando minha caminhada. Justin andava ao
meu lado, com as mãos nos bolsos. Porque deixei tudo isso acontecer? Eu
gostei te tê-lo beijado? Sim, é claro! Justin é um beijador nato. Mas
intrigava o fato de querer minha amizade. Em minha mente, tento manter a
idéia de que fora um beijo simples, algo que aconteceu no momento e que
não tornará a se repetir. A questão era se ele realmente pensava o
mesmo.
-
Eu posso levar você até a casa da sua amiga? Eu estou de carro... E
quem sabe enquanto o percurso, eu lhe conte a piada da galinha que
atravessa a rua. – comentou simples, o que me fez rir alto. Não havia
intenção de piada. Mas era impossível não admitir que, ele tinha o dom
de fazer as pessoas sorrirem, mesmo que sem querer. E, ainda rindo
caminhamos juntos até a saída do parque até o carro do bobo ao meu lado.
Ou como prefiro chamar, Lábios de Peixe.
[...]
-
Nos vemos amanhã na escola? – perguntou Justin, quando me preparava
para sair do carro. Sua bochecha permanecia vermelha e sua boca se
curvava em um sorriso gentil. Talvez ele tivesse realmente gostado do
encontro... Quero dizer, do passeio de amigos.
- Mas é claro. Vou adorar saber qual será a próxima piada, ‘Senhor Grampeei Minha Própria Orelha’.
-
Tenho certeza de que será ainda mais engraçada, que a piada da galinha
que atravessa a rua. – piscou atrevido. Retirei o sinto e me aproximei
dele para beijar sua bochecha. Porém, como um verdadeiro brincalhão,
Justin virou o rosto e formou uma espécie de bico com a boca, e quando
dei por estava com meus lábios unidos aos seus novamente. Ele tratava de
segurar minha face, enquanto nossas bocas se acariciavam lentamente.
Envolvida por um momento que, novamente, não deveria ter acontecido,
peguei em sua mão livre fazendo ali, um pequeno carinho. Ao fim do
beijo, afastei-me dele um pouco atorada impedindo um sorriso de canto
invadir meu rosto.
-
Boa noite Hanna. – falou baixo deixando um selinho em meus lábios, em
despedida. Um beijo atrevido. Se bem que, ele é atrevido por completo.
Um garoto maluco, que beija peixes, que grampeia a orelha e que parece
gostar de beijar-me sem permissão. Poderia dizer, poderia pedir para que
aquilo não se repetisse. Mas admito que gostei do sabor do seu beijo.
Do jeito que sua língua envolvia a minha. Sim, era errado em partes. Mas
eram simples beijos. Assim como os garotos que beijava nas festas. Não
passava de simples trocas de carícias. Com ele, certamente não seria
diferente. Deixei a bolsa no ombro, abrindo em seguida a porta do carro.
-
Até logo, lábios de peixe. – comentei vendo um sorriso em seu rosto. O
costumeiro sorriso. Ao fechar a porta, já do lado de fora, vi o carro se
afastar e cruzar a rua. Ele se foi. E com ele, levou a Hanna do
passeio.
Parem a música
Ao
virar e encarar a casa da minha amiga, me permitir respirar
profundamente antes de caminhar na direção da entrada. Lembrar que teria
de voltar para casa, mesmo que há essa hora da noite, causava-me raiva.
A noite fora tão divertida, e ter de retornar para aquele lugar
destruía tudo isso. Girei a maçaneta da porta e meu corpo tremeu. Olhei
para trás, notando agora, um carro parado do outro lado da rua.
Conhecia-o, e torcia para que não fosse o motivo de estar aqui. Estava
errada. Quando a porta foi aberta, vi Holy e Iago, pessoas ao qual era
forçada a chamar de ‘pais’ encarar-me em fúria. Mas eles sabiam fingir
bem. E com um sorriso falso no rosto, Iago segurou firmemente meu braço,
enquanto Holy se preocupava em continuar a farça. Louise era a única
que entendia minha situação. E também era a única que sabia quem eles
eram de verdade. Meu braço doía a cada vez que ele o apertava ainda
mais. Eu sabia o que aconteceria, caso tentasse contar o que acontecia
naquela casa. Eu sabia a que nível de crueldade eles eram capaz de
chegar. E era horrível admitir, eu sentia medo deles. Muito mais do que
se pode imaginar.
-
Então aqui está você. – Iago comentou baixo em meu ouvido. Conhecendo-o
como ninguém, sabia que aquele tom de voz não significava algo bom.
-
Estávamos preocupados com você, querida! Não deu notícias, não avisou
antes de ir à escola. Quase morro do coração! – mentiu Holy com as mãos
no peito. Sentia repulsa quando ela mentia dessa maneira. Fingindo se
importar com meu bem estar. O mais absurdo, era que ela fazia as pessoas
acreditarem que era uma mãe amorosa e preocupada.
-
Mas agora que sabemos que está bem, devemos retornar a nossa casa e
deixá-los descansar. Tenham uma boa noite. – agradeceu Iago. E sim, ele
realmente estava agradecido por saber meu paradeiro. Mas não se engane,
porque sei o que vai acontecer assim que atravessar a porta de casa.
Louise
abriu a boca para se pronunciar, mas desistiu quando viu meu sinal. Não
havia nada que pudesse impedir o que aconteceria. Não demorou, para que
fosse jogada com força para o carro quando os pais da minha melhor
amiga não olhavam. E novamente estava no lugar que mais detestava. Perto
deles. Era difícil querer uma vida normal? Eu sabia que nem toda a
família era como a minha. Mas eles não paravam de brigar por um segundo,
mesmo dirigindo em alta velocidade. A pista estava molhada, o que me
fez pensar que havia chovido enquanto estava na casa de Louise, sou se
algum idiota jogou água na estrada. Não fiz questão de por o cinto de
segurança. Eu só queria correr até meu quarto e me trancar lá. Mas
diferente do que imaginei, Iago segurou meu braço com firmeza, jogando
meu corpo franzino contra a parede assim que chegamos a casa. Senti-me
doer ao cair no chão. Ele tinha batido de propósito. Ele sabia que não
tinha recuperado da última vez que me bateu. E foi impossível segurar a
lágrima atrevida que molhou com rapidez meu rosto. Aquilo doía muito.
-
Então você foi abrir as pernas para um vagabundo, qualquer não é? Vou
te ensinar uma lição... Você vai aprender que só pode ser minha,
entendeu? – ele gritava enquanto me batia com um pedaço de madeira
grosso. Mas exatamente, a perna da mesa, que por sua vez quebrou
enquanto ele brigava com Holy.
Iago
estava furioso, provavelmente ouviu os pais de Louise comentar que eu
estava em um ‘encontro’. Ele já tinha tentado me forçar a... Bem, ele
graças a Deus não conseguiu. Eu não entendia por que. Eu era sua filha.
Ele deveria me proteger, mas, no entanto faz totalmente o inverso. Além
claro, de seu ciúme doentio. Era sempre assim que o dia terminava quando
ele sabia que tinha saído com algum rapaz. Da última vez que ele me viu
beijar um rapaz, passei uma semana sem andar. Sim, minha vida é uma
maravilha! Conseguiu sentir a ironia? E de pensar que, ainda existiam
pessoas na escola, que simplesmente achavam que tinha uma vida perfeita.
Mal sabiam eles o inferno que vivia.
-
Não acredito que está com ciúmes dela! Seu desgraçado, ela é sua filha!
– gritou Holy puxando-o para longe de mim. Ainda dolorida, vi os dois
brigarem e gritarem. Pus as mãos nos ouvidos, fechando com força os
olhos, tendo o rosto banhado pelas lágrimas. Meu corpo estava mole e
tremia. Estava dolorido demais. Mesmo prometendo não chorar na frente
deles, mesmo tentando de todas as forças a dor me consumia de uma forma
tão absurda, que era impossível impedir as lágrimas.
-
Você está apaixonado pela sua filha seu desgraçado? – gritava Holy
desferindo o primeiro tapa no rosto do marido. Quando vi, ainda de visão
turva, eles se batiam. Levantei devagar, percebendo que fazia força
para não gritar. E ao entrar no quarto, senti meu corpo cair com tudo
no chão. E antes da escuridão me invadir, eu pensei... Eu odeio minha
vida.
Então o que acharam? Acho que a partir do próximo cap as coisas vão
realmente acontecer. O que acharam do beijinho deles? Fofo né? Ok, sou
suspeita pra falar isso. Se gostaram, comentem e se não também. Hehe
Comentários me deixam feliz e me estimulam a continuar. Então comentem,
ok princesas? Beijos e até o próximo :D
0 comentários:
Postar um comentário