5 de out. de 2015

My Dear Nerd - Heart by Heart - Capítulo 28 - Nova Chance

POV JUSTIN
 Respirei fundo antes de abrir a porta do quarto. Encontrei Anna sentada perto da janela, com Amora nos braços. Não sei por quanto tempo fiquei parado à porta, observando-a, mas ela sentiu minha presença e virou-se lentamente para mim. Percebi que tinha chorado. E Anna me deu um dos sorrisos mais tristes que vi.
Ouçam Lauren Aquilina - Sinners 
- Oi. - disse ela. Por um minuto, toda a raiva por vê-la aos beijos com Sara desapareceu. Em seu lugar, uma tristeza me abateu. Respirei fundo mais uma vez antes de dar um passo a frente.
- Ashley me pediu para chamar você para o jantar. - falei, o que era verdade. Anna agradeceu com um aceno de cabeça.
- Descerei num instante, obrigada. - virei de costas para sair, mas fiquei parado onde estava. Arrumei o óculos no rosto, me virando para ela novamente.
- Estou fazendo você chorar? - perguntei. Ela me deu outro sorriso triste.
- Você já me fez chorar antes. Mas, dessa vez, nesse momento, não é por você. - respondeu, baixinho. Entendi por quem ela chorava. O avô morto.
- Anna...
- Amora está cuidando de mim. - fez carinho na cadelinha com o braço livre. - Você não faz ideia do quanto ela me ajuda.
- Sinto muito por sua perda. - dei outro passo, sem saber o que dizer. - Se eu pudesse voltar no tempo e...
- Mas não pode. Também gostaria de tê-lo salvo, mas não posso. Vou ficar bem, não se preocupe.
- Não há como não me preocupar. Odeio ver você assim.
- Então não veja. - sua voz transmitia todo o cansaço, toda a dor que tentava esconder.
- Não posso te deixar sozinha.
  Anna apoiou Amora delicadamente no lugar onde se sentava e caminhou em minha direção, ficando a uma considerável distância de mim, e se aproximando, até não sobrar mais espaço entre nós no abraço que veio em seguida. Ela apoiou a cabeça no meu peito, e meus braços rodearam sua cintura. Me peguei abraçando-a apertado contra mim
- Por favor, não fique chateado com Sara. Ela se sente sua falta mais do que imagina. É sua melhor amiga. - disse, entre o abraço.
- Ela se apaixonou pela minha namorada.
- Não sou mais sua namorada, Justin. - respondeu, nunca mudando o tom de voz. Ela tinha razão, afinal. - Ela pode estar apaixonada por mim, mas sente muito mais sua falta do que admite. Sara precisa de você. Por favor, não se afaste. Não a odeie. - ela saiu devagar dos meus braços, e olhou nos meus olhos, e me surpreendi mais uma vez com a beleza de seus olhos verdes que agora estavam tão tristes e sem vida.
- Vocês estão juntas? - perguntei, com estranho medo da resposta.
- Não. Gosto de Sara como uma grande amiga, nada além. - tentei não parecer aliviado com o que ouvi.
- Eu quero, qu-quero tentar de novo.
- Não faça isso. Não pode forçar um sentimento que não existe, será pior. - ela disse, com aparente calma.
  Quis dizer que não estava forçando nada, que havia algo, que era importante pra mim. Muito mais do que tinha reparado, até encontrá-la aos beijos com Sara, quando senti medo de perdê-la. Mas nada disso saiu. Só olhei pra ela.
- Na última vez que nos falamos, eu fui egoísta. Pensei apenas em mim quando desisti de você. A verdade é que não consigo desistir fácil de você, por mais que eu tente, no entanto, não posso fechar os olhos e fingir que não vejo que estou amando sozinha. Não posso obrigar você. E não posso fazê-lo feliz, não mais. Eu amo você, Justin. E por isso não posso, não quero ser egoísta com você. Eu escolho deixar você ir, ser feliz.
- Está me deixando ir.
- Estou. Você não me ama, e assim sendo, nenhum de nós seria genuinamente feliz. Você merece ter uma vida, e agora é o melhor momento para começar do zero. Amber te convidou para um encontro. Vá. Desculpe, acabei ouvindo sua conversa no telefone sem querer. - se desculpou quando percebeu meu olhar confuso. - Eu quero que vá a esse encontro, que se divirta.
- Mas e você? Anna, você precisa...
- Preciso que viva sua vida. Tem uma vida novinha em folha. O que tivemos foi maravilhoso, mas acabou. Está na hora de seguirmos definitivamente em frente. E não se preocupe, ficarei bem. Agora vá e se divirta.
  Anna Mel deu dois passos para trás. A olhei antes de sair. Fui ao meu quarto, encontrando Collin brincando com uma bolinha. Sentei na cama e fiz carinho atrás de sua orelha quando ele se aproximou de mim. Mandei uma mensagem para Amber, confirmando o jantar de hoje. A noite estava bonita, nenhuma nuvem no céu sem estrelas.
  Olhei para o quarto, buscando algo de que me fosse familiar, mas até as lembranças que vinham, eram confusas e incompletas. Faltava algo. Me sentia mais vazio do que podia lembrar. A custo levantei da cama e fui me arrumar para sair com Amber. Tomei um banho rápido e me vesti. Procurava um cinto, quando minha mão se chocou em algo. Olhei melhor. Era uma caixinha preta. Peguei-a e abri.
  Encontrei um par de anéis dourados e um papelzinho dobrado muitas vezes. Com ele na mão, fui até a cama onde sentei. Deixei a caixinha com os anéis na cama e desdobrei o papel. Comecei a ler.
  PS: Para dar à Anna Mel em um momento muito especial, provavelmente no ano novo. Já que passamos por tantas coisas juntos, já que salvou minha vida, já que a amo. E dar acompanhado de uma comida que ela goste, porque somos esse tipo estranho de casal. 
  Peguei a caixinha e a olhei por um bom tempo.
Parem a música
[...]
POV ANNA
 Ri de uma piada que Caitlin disse, enquanto fazia as unhas da loira. Era a noite das garotas. Só das garotas. O que significava que Damon e Mike não eram bem vindos. Justin saiu, assim como disse, para jantar com Amber, e eu sinceramente não queria pensar no que estaria acontecendo lá.
  Ashley e Caitlin me faziam esquecer essas coisas, o que ajudava bastante. Hoje o quarto estava mais rosa que o comum, até mesmo para os padrões da loira. As garotas estavam elétricas. Deixei me levar pela alegria delas.
- Ah, esqueci de falar, abelha. A Cait tem uma coisinha pra te contar. - a loira piscou pra mim, e minha amiga morena ficou vermelha como um tomate. Fiquei confusa, e a risada de Ash encheu o quarto. - Ela tá namoraaaaaaaaando! - ela cantarolou
- Ashley! Eu ia falar! - reclamou ela.
- Ai! Isso doeu, viu? Você já foi melhor manicure. - reclamou a loira.
- Não me diga que...
- Isso mesmo, abelhuda! - ela riu.
- Eu juro que ia contar, Anna. Ele queria dizer no mesmo dia, mas pedi pra ele tempo, pra te contar juntos. Eu notei que você não parecia tão bem, e decidimos esperar e...
- Tudo bem, Cait. - tranquilizei, rindo. - Quer dizer, é nojento saber que vocês vão transar, então, lavem-se bem antes de tocar em mim.
- Idem! - concordou Ashley, levantando a mão livre.
- É muito estranho, quer dizer, ele é seu irmão. - ela estava realmente sem graça.
- A gente se acostuma. - brinquei. - Mas me conta: quando foi? Ele que fez o pedido? Foi fofo?
- Aconteceu na última festa que ocorreu no campus. Ele foi romântico. Não tive como dizer não. - ela sorriu, apaixonada. Tentei não pensar que na mesma festa, Sara se declarou e Justin presenciou a cena.
- Também, né? Como dizer não para aquele gostoso?
- Ashley! - reclamou Cait.
- Eca! Ele é meu irmão.
- Desculpa, mas mesmo assim não deixa de ser um gatinho. Não tão lindo como meu Damon, é claro.
- Acho que agora posso vomitar. - fiz drama.
- Não. É ela que vai dar uns pegas no seu irmão. - ela riu.
- Ashley! Anna está ficando verde! - Caitlin riu, e acabei me juntando a elas.
- Ele beija bem? - minha amiga loira quis saber.
- Sério? Eu não preciso saber da vida amorosa do meu irmão nos mínimos detalhes, obrigada.
- Sou curiosa, você sabe. - ela piscou.
- Você não presta.
- Me ama que eu sei. Todo mundo me ama. - ela mexeu nos cabelos, dando aquele sorriso lindo que tinha, e não pude conter outra risada. Peguei outro Doritos do saco, molhei-o no molho cheddar e levei a boca. Estava saboroso.
- Que fofinho! Todo mundo namorando. - a morena quase bateu palminhas.
- Quase todas. - corrigi.
- Desculpe.
- Tudo bem. Quem precisa de um namorado quando se tem Doritos e molho Cheddar? -  dei de ombros. - Amora, você é nanica, mas estou te vendo. Nem pense em tentar por essa boquinha na minha comida sorrateiramente. - anunciei para a cadelinha que se aproximava.
- Tal cão, tal dona. Vocês foram feitas uma para a outra. - disseram as garotas.
- Eu sei. - ri. - Mas não divido a comida.
- É claro que não. - concordaram. Não me lembro de ter dado tantas risadas desde que ele se foi. Estava feliz pelo meu irmão, que tentava ser feliz com a garota que ama. Pelas minhas amigas estarem aqui, me fazendo bem e completa. Nossos cães conosco, brincando. Foi uma bela noite. Lembro de ter ido dormir sorrindo. Tive uma madrugada tranquila e sem sonhos.
   Fui a primeira a acordar com a barriga roncando. Deixei as garotas dormindo no quarto, tomei um banho rápido e fui até a cozinha, preparar algo para comer. A casa estava silenciosa, a vizinhança tranquila naquele domingo de manhã. Quando terminei de comer, no entanto, ouvi um barulho vir da sala. Quando lá cheguei, encontrei a porta entre aberta. Justin estava lá fora, com as roupas que tinha saído, as mãos nos bolsos, observando a rua deserta, o nascer do sol.
 Ouçam Ella Henderson - Yours
- Oi. - falei da porta. Ele se virou para mim, e sorriu. Estava lindo, mas sem os óculos. - Bom dia.
- Bom dia. - respondeu calmo.
- Chegou agora? Posso preparar um café.
- Na verdade, cheguei antes da meia noite. E não quero café, mas obrigada.
- Espero que tenha se divertido.
- Foi uma noite agradável. - ele disse. Mordi os lábios, direcionando meus olhos para o chão. Aguente firme, pensei. - Ela é uma boa garota, mas não estava dando certo. Terminamos. E a sua noite? Como foi? - perguntou. Dei alguns passos até ele.
- Foi muito boa. Noite das garotas.
- Noite das garotas. - ele riu, concordando. - Você me disse ontem que estava me libertando para que pudesse ser feliz.
- Eu percebi que desisti de você pelos motivos errados. Fui egoísta porque fiz aquilo por mim, não por você. Dessa vez, não foi apenas por mim, foi por nós. Não posso fazer você feliz, por favor não vamos voltar a esse assunto, acabou.
- Não acabou pra mim. Agora é minha vez de falar. Está errada, Anna. Errada se acha que não pode me fazer feliz. Se acha que não sinto nada por você. É verdade, não sei o que aconteceu antes de acordar naquele hospital, não sei do passado, mas sei do agora. - ele pegou minhas mãos e olhou firmemente nos meus olhos. - E eu amo você. E pra mim basta. Quero começar uma vida nova com você.
   Nossos rostos se aproximaram lentamente, até que só houvesse espaço para nossos lábios se tocarem. Senti a boca dele na minha, Justin totalmente entregue a mim, o calor do sol nos meus braços. Bastava pra mim. Estava tudo bem.

25 de jul. de 2015

My Dear Nerd - Heart by Heart - Capítulo 27 - Me Ame ou me Deixe Ir

POV ANNA
  Poucas pessoas estavam no refeitório desde que cheguei. Essa era uma vantagem de intervalos em horários diferentes. Dava tempo para pensar. Apesar de que, mesmo sem Caitlin aqui, minha mesa estava cheia de pessoas que faziam parte do meu grupo de estudos, discutindo o que fazer para o próximo trabalho. Pus o nome dela no grupo, já que minha amiga estava gripada demais para vir hoje. Os alunos de psicologia estavam do outro lado, conversando, estudando, contando piadas de psicólogos. Tentei me concentrar o máximo que pude no livro de história da arte, e até iluminei algumas coisas com marcador azul. Disse para meus amigos que voltaria logo, e deixei meus livros e lápis na mesa, ao lado de Vitória, uma colega de classe e grupo que eu gostava muito. Peguei meu celular e fui.
  Sai do prédio e fui até a mesma pontezinha de quatro dias atrás, e vi Sara para de costas para mim, observando a água abaixo de si. Andei devagar sob o piso de madeira até ela, parei ao seu lado. Ela continuou olhando pra frente, e assim ficamos alguns segundos em silêncio.
- Sempre gostei desse lugar. - disse ela, baixo, como se não quisesse perturbar a paz daquele ambiente. - Venho aqui muitas vezes para pensar, ou simplesmente observar a natureza. É como se nada de ruim pudesse me atingir. Mas atingiu. - então Sara olhou pra mim. - Eu falei com ele.
  Engoli em seco, mas não desviei meus olhos dela. Lembro que naquela noite, Justin estava irredutível, e não queria ouvir nada. Sara não insistiu e deixou que ele tivesse seu momento de fúria e se acalmasse. Eu, por outro lado, sequer me movi do lugar, porque não queria explicar nada. Ele tinha feito bobagens demais para exigir algo, para sequer se sentir no direito de ter raiva. Ele foi embora dali sem deixar a amiga falar, e recomendei a Sara que esperasse até o momento certo.
  Durante esses quatro dias, é claro que ele me evitou como o diabo correndo da cruz. Fiz o mesmo com ele, irritada pelo conjunto de coisas idiotas que ele estava fazendo. Não estava disposta a perdoar. Mas os dias passaram, ele se acalmou e ela conversou com ele. Então Sara me ligou e marcamos aqui, para conversar, mesmo que ela tivesse que perder metade da aula.
.- E como ele está?
- Confuso e furioso. - respondeu ela. - A verdade é que ele não sabe o que quer. E ainda está chateado comigo. E até entendo, já que a situação de vocês é complicada demais.
- Vocês continuarão sendo amigos?
- Não sei dizer. Sinceramente não sei. - ela suspirou. - Sinto muito por tudo isso. Estraguei tudo.
- Você não estragou nada. Não foi culpa sua ele ter caído dali, muito menos ter se tornado um idiota depois disso.
- Acha que as coisas vão voltar ao normal? Acha que ele vai recobrar a memória? E se ele nunca mais me perdoar? - perguntou, e parecia triste com a possibilidade de perder o amigo.
- Um dia, tudo isso vai ser só uma vaga lembrança de tempos distantes e incertos. As pessoas que eu amava e perdi.... eu sequer sabia sua cor favorita, ou o que panejava para o futuro. Sigo firme pensando que um dia vai parar de doer. Talvez nunca pare. Mas a vida é assim. E se ele nunca perdoar você, se nunca mais me amar... vamos ter que seguir em frente mesmo assim.
- Acha que pode me amar algum dia? - perguntou, virando-se completamente para mim.
- Não quero mentir para você. Ainda amo Justin. Preciso me livrar desses sentimentos antes, estar livre primeiro para mim mesma, antes de me apaixonar de novo. Não quero usar você para esquecê-lo, e não quero que pense que é isso que estou fazendo. Preciso de um tempo para mim, entende?
- Sei o que quer dizer. - ela sorriu fraquinho. - Sabe, me apaixonei por você desde a primeira vez que te vi. Quando descobri que você era a namorada do meu grande amigo, decidi te odiar, porque assim seria mais fácil não trair a confiança dele ou de fazer alguma bobagem. Com isso você me odiou automaticamente, porque, vamos ser sinceras, sei muito bem como ser irritante. - ri daquilo. Ri porque era verdade e porque entendi toda a antipatia do começo.
- Sabe mesmo. - concordei.
- Mas quer saber? Não adiantou muita coisa me afastar de você. Mas não vou forçar você a nada. Se um dia puder retribuir,vou estar aqui. - ela se aproximou e deixou um beijo em minha bochecha. - Agora tenho que ir.
  Observei-a enquanto se afastava, aliviada por ser tão compreensiva e uma pessoa maravilhosa. Dois ou três minutos depois, voltei para meu grupo de estudos, sentei e conversei sobre como seria desenvolvido o trabalho. Mas ainda tinha uma coisa a se fazer, e eu não podia esperar mais, apesar de querer muito. Precisava falar com Justin.
[...]
 Ouçam Claire De Lune - Skipping Stones
   Liguei para Ashley avisando que não iria com ela e os outros no carro. Quando a última aula do dia terminou, fui andando até um pub que ficava mais ou menos perto do campus. Pedi um café e uma fatia de bolo, Agradeci por não ter visto Justin durante todo o dia. Observei o céu cinza que se estendia infinitamente, pela enorme janela de vidro do lugar, Me sentia um pouco deprimida.
  Estava pensando nas consequências do que falaria para Justin e talvez até no que ele pensaria de mim se recobrasse a memória. Eu estava desistindo dele. E não tinha muita coisa a ser feita em relação a isso. Peguei minha agenda onde fiz anotações como comprar ração e novos brinquedos para Amora e materiais novos de arte, tentando focar apenas em mim. Já que é assim que seria daqui em diante.
  Agora chovia forte lá fora. A água fazia barulho quando batia no teto, o cheiro de grama molhada rondava o ar e tudo parecia acolhedor. Olhei ao redor, observando as pessoas e imaginando como seria suas vidas, se tinham tantos problemas quanto eu, se tinham olhos cansados ou não, ou se estavam felizes com a vida que tinham ou se desejavam ter mais. Foi assim que reconheci um par de olhos cor de mel, que já me encaravam há algum tempo. Talvez ele tivesse me visto chegar, pensei. Quanto tempo ele estava aqui?
   Fiquei nervosa quando ele suspirou e levantou, vindo na minha direção, então, sem saber porque fiz isso, deixei uma nota de vinte pratas na mesa e levantei, abrindo a porta. Do lado de fora a chuva parecia ainda mais forte, e já estava molhada quando tirei meu guarda chuva portátil da bolsa. Quando o abri, no entanto, percebi que estava quebrado, larguei com uma mistura de raiva e nervosismo na primeira lixeira que vi pelo caminho.
- Anna! - ele gritou atrás de mim. Quer saber? Acabe logo com isso, pensei. Me obriguei a virar e esperar que ele viesse até mim, se parecer se importar em estar totalmente molhado, assim como eu. Tentei ignorar o quanto ele estava bonito.
- O que você quer?- perguntei, quando ele parou na minha frente, um braço de distância.
- O que eu quero? Quero entender o que aconteceu naquela noite. - ele estava calmo quando falou.
- Bacana pra você... estou tentando entender minha vida inteira. Mas em resposta, foi exatamente o que viu.
- Você beijou minha amiga. - acusou ele.
- Sim, beijei.
- E não devia ter feito isso.
- Você está brincando comigo. - acusei de volta. Dei um passo a frente. - E não devia ter feito isso.
- Brinquei com você? Pelos céus, Anna Mel! Você ainda não entendeu minha situação? Eu não lembro de merda nenhuma! Minha cabeça está confusa. Cada um que diga uma coisa e nunca chego a uma conclusão... está tudo embaralhado na minha cabeça. Como quer que me concentre em você? Como pode dizer que estou brincando com você? Eu jamais faria isso.
- Jamais? - eu ri. - Tá. Finjo que é verdade.
- Como é que é?
- Eu entendo, muito mais do que pensa, pelo que está passando. Sei que não é fácil. E não estou te obrigando a se concentrar em mim, a única coisa que eu queria era que você se lembrasse de nós. Dos seus amigos, seu cachorro, sua namorada, sua faculdade, sua vida, Mas você não pode brincar comigo. Uma hora diz que está tentando achar o caminho de volta pra mim, dá a entender que sente algo por mim e me enche de falsas esperanças. Basta apenas uma morena gostosa te dar atenção que você ignora tudo isso. Não sou sua válvula de escape, não sou um brinquedo, sou uma pessoa. Com sentimentos. E estou cansada de sofrer.
- Nunca tive intenção de brincar com você. Mas tente me entender, por favor.
- Tente entender a mim, só por um segundo. Você pode ter perdido a memória, mas eu perdi pessoas que eu amo. E não posso fazer nada para mudar isso. Mas posso mudar as coisas em relação a você. Não vou permitir que me magoe, de qualquer maneira que seja. Me recuso. Por isso, Justin, se decida de uma vez. Não posso esperar você pra sempre, não assim. Já chega! Chega de sofrer. Quero viver minha vida, ser feliz, estou cansada de tudo isso. Vou você me ama, ou me deixa ir.
   Ele não me interrompeu uma única vez, e aproveitei para dizer tudo que pensava e sentia. Quando terminei, ainda chovia forte, estava completamente molhada e ele ainda olhava pra mim. Abriu a boca uma, duas, três vezes, mas nenhuma palavra saiu dela. Decidi não esperar mais, mesmo que doesse muito fazer aquilo.
- Eu faço isso por você. - suspirei, vendo aqueles olhos castanhos completamente perdidos, ainda amando-o, e prometi ser a última vez a encará-lo daquela forma. - Adeus, Justin. Tenha uma boa vida.
  Me virei e continuei andando, deixando-o parado na chuva, sem olhar pra trás.


NOTAS
 Oi oi gente! E então, o que acharam do cap? Espero que tenham gostado. Beijos e até a próxima.
Roupa da Anna: https://lh4.googleusercontent.com/-tGrAjsxDaxw/VNlIqibUHgI/AAAAAAAAApE/_2wPkkR5UUI/w928-h1353/0009.png


17 de jul. de 2015

My Dear Nerd - Heart by Heart - Capítulo 26 - Elastic Heart



POV ANNA
 É, as aulas tinham voltado. Férias sempre parecem passar tão rápido, e sempre fico impressionada com isso. Justin e eu estávamos nos aproximando, o que parecia ser bom, mas em compensação, ele ainda não lembrava de nada. E tinha uma garota tentando conquistá-lo, coisa que eu tentava ignorar, mas era difícil.
  Outra pessoa de quem me aproximei ainda mais nas férias foi Sara. Eles ficaram conosco na mesma casa durante todas as férias, e até dividi meu quarto com ela durante esse tempo. Mas nos últimos dias ela começou a ficar estranha, como se estivesse me evitando. O fato é que, ao menos não que me lembre, eu tenha dito ou feito algo que a ofendeu, depois das férias, ela simplesmente passou a me evitar de um jeito tão óbvio que fiquei com medo de perder sua amizade.
  Dobrei o corredor, voltando meus pensamentos para Justin e para a garota que estava paquerando ele, e o fato de fazerem o mesmo curso e serem da mesma turma. Pensei se teria chances contra ela, mas aquilo era inútil. Quer dizer, tivemos toda as férias toda juntos e mesmo assim nada aconteceu. Ele não era mais meu Justin, apesar de amá-lo como se fosse. Mas tudo tinha acabado. E a dura realidade de que teria de seguir em frente sem ele era aterrador.
  Então decidi focar nos estudos. E na Amora. Nos meus amigos. E na maravilhosa oferta de trabalho no restaurante do meu professor de culinária se eu ficasse ainda melhor na cozinha. Isso me ajudava e era por isso que não queria ficar parada. Pensar nas pessoas que perdi só iria me deixar ainda pior. Estava tão ansiosa para me manter ocupada, que até aceitei ajudar a comissão da faculdade a organizar uma festa de boas vindas depois das mini férias de abril. Também fui as compras com as garotas e compramos os trajes perfeitos para a festa de hoje a noite. Sara foi conosco, mas me evitou o quanto pode. Dessa vez, resolvi deixá-la em paz.
  Abri a porta do banheiro e fui direto conferir minha aparência no espelho. Lembrei que o professor de história da arte concedeu apenas poucos minutos para essa minha saída. Lavei as mãos e conferi a maquiagem e também o cabelo, quando a porta de um dos box's se abriu atrás de mim e o reflexo de Sara surgiu no espelho.
  Ela parou por um segundo quando me viu ali, enquanto eu observei seu olhar espantado por alguns segundos antes de me virar pra ela, com um sorriso tímido.
- Oi Sara. - falei.
- Eu preciso ir agora. A gente se fala mais tarde. - respondeu, andando até a porta, não chegando a alcançá-la porque segurei seu braço para impedi-la de ir embora.
- Você está me evitando. - acusei.
- Não estou.
- É claro que está e não finja que não sabe disso. - cortei. - Sinto se fiz ou disse algo que ofendeu você, não tive intenção. - larguei o braço dela esperando que ela pudesse me esclarecer o que houve.
- Você não fez nada. Só estou com muita pressa nesses últimos dias. - ela sorriu de lado, dando um passo pra trás. - A gente se vê na festa. - ela disse, fugindo de novo. Com um suspiro cansado, terminei o que fazia e voltei pra sala de aula. Seria um longo dia.
[...]
- Deixe por isso aqui. - a loira me parou no meio do caminho para arrumar alguma coisa que estava no meu cabelo. Sara e Caitlin pararam um pouco mais na frente, em uma conversa animada. O som era abafado do lado de fora, e eu podia imaginar que o lugar estava cheio. Os garotos chegaram antes de nós, e eu temia ver Justin com aquela garota. Tentei não pensar nisso.
- Estou orgulhosa de você, caso não sabia. - disse ela, quando terminou o trabalho.
- Orgulhosa? Você não tem motivos pra estar orgulhosa. - fiquei tão confusa quanto poderia.
- Porque acha que não tenho motivos? - ela cruzou os braços.
- Porque fiquei em negação, fugi da situação, e além de tudo estou irritada porque tem uma garota qualquer tentando conquistar meu ex.
- Foram tempos difíceis e você é humana. É natural. Mas está aqui, não está? Enquanto ao Justin, você sabe muito bem o que pode acontecer ali. Talvez ele recobre a memória, talvez não. Nenhuma dor é eterna. Você vai ser feliz e eu vou sempre ser sua loira linda que você ama muito. - ri e a puxei para um abraço. Quando nos soltamos, disse que ela estava linda e ela respondeu dizendo que sabia disso. Quando nos juntamos as outras, entramos no salão, todas sorridentes, e percebi que estava certa. A primeira coisa que vi foram pessoas dançando e Caitlin e Ashley foram se juntar à Damon e Mike na pista de dança.
  Em silêncio, Sara e eu fomos até John. Do lado dele estavam as duas pessoas que eu menos queria encontrar.
- Meninas. - John nos saudou assim que chegamos. - Encantadoras.
- Nós sabemos. - respondeu Sara, e não pude conter uma risada. Isso fez com que Justin e a garota com quem conversava percebessem nossa presença. Ela era mais alta que eu, morena, e mais corpulenta. Atendia pelo nome de Amber. Ele parecia feliz em nos ver.
- Oi gente. - disse ele, e sorriu pra mim. Me forcei a sorrir de volta e não bancar a ciumenta. - Bom trabalho Anna. Esse lugar ficou incrível.
- Verdade. Apesar das fotos do baile do ano passado parecerem melhor, você fez um bom trabalho aqui. O salão está "legal". - comentou Amber, se apoiando no ombro dele. Tentei entender se era uma alfinetada ou um comentário sincero.
- O lugar está mais incrível que todos os anos anteriores. - Sara disse, olhando pra mim. Era a primeira vez em dias que ela falava comigo sem que eu precisasse  me esforçar pra isso. Então, percebi que ela me defendeu de uma alfinetada de Amber.
- Só fiz meu trabalho. Obrigada. - sorri pra ela, agradecida.
- Naturalmente, ainda faltam...
- Se você soubesse o que essa garota consegue fazer, ficaria de queixo caído. É a melhor namorada que Justin já teve. Apesar de não lembrar disso, é claro. - Sara cortou antes que Amber pudesse continuar, e vi ódio nos olhos dela com o que Sara tinha feito. Fosse como fosse, não se deixou transparecer por que Justin estava ali.
- Eu gostei muito. - disse John, percebendo o clima tenso.
- Eu também. - concordou Justin. - Você contratou um excelente Dj. - continuou elogiando, ajudando a mudar de assunto.
- Demoramos tanto assim pra vir? - perguntou minha amiga, surpresa.
- O que? Nem Drácula viveu tanto tempo quanto vocês gastam pra se arrumar. - John respondeu, mas parecia rir. Ele era estranho... mas eu gostava dele.
- Somos quatro mulheres, John. O que você queria? E além do mais...
- Não demoramos muito. - completei a frase pra ela.
- Ainda bem que não esperaram por vocês. Dançamos muito, não foi? - Amber sorriu pra Justin, que só confirmou com a cabeça mas não sorria. Tive a impressão de estar desconfortável. Eu sinceramente não queria saber nada sobre eles. As coisas ainda ficaram piores porque, assim que ela terminou de falar, um grupo de pessoas puxaram Sara e John pelo braço, rindo e cantando, levando meus amigos para se divertirem, e bem longe de mim. E agora estávamos os três ali, em uma situação nada confortável.
- Soube que sua mãe e seu avô morreram. Como é que você está?
- Esse é um assunto que não quero discutir com você, nem com ninguém, Amber.
- Só tentei ser gentil. Justin me contou que você estava muito triste e que precisava de ajuda. - olhei pra ele no mesmo instante, sem acreditar no que tinha ouvido. Esqueci o ciúmes, pois estava furiosa demais com ele, e nenhum olhar culpado que ele me transmitisse ia resolver.
- Bom, eu só falei que...
- Pelo visto, você anda falando coisas demais. - cortei, falando alto o suficiente para ele entendesse que essa seria a palavra final. Não queria ficar mais um segundo sequer ali, nem saber até que ponto ele tinha falado alguma coisa. Saí de perto, me enfiei no meio da multidão, ignorei ele chamando meu nome. Andei até a outra ponta do salão, longe o suficiente dos dois, e dei uma boa olhada no lugar.
    Quantas pessoas sabiam disso? E do que sabiam? Até onde ele tinha aberto a boca, e até onde Amber se esforçou pra espalhar fofocas sobre a ex do cara que ela pretende ter algo? Ele não era assim, de contar coisas pessoais minhas pra qualquer um. De fato, ele tinha mudado. Peguei um copo de refrigerante na mesa, e dei um gole bem grande. Quando olho pra frente novamente, vejo Sara vindo na minha direção.
- Que merda eles fizeram? - perguntou assim que parou na minha frente. Contei a ela o que houve. - Quer saber? Eles que se danem! Vem cá. - ela tirou o copo da minha mão, deixou na primeira mesa que viu e me puxou pra pista de dança.
- O que você está fazendo?
- Te puxando pra dançar, o que acha? - respondeu. - Esqueça aqueles idiotas e dance. Se ocupe. Não é isso que está tentando fazer? - continuou ela. Respirei fundo, percebendo que ela tinha razão.
  Tive muitos minutos de paz, dançando com Sara. Encontramos os outros e dançamos juntos, rimos e apostamos quem era melhor. Era tão divertido que muita gente acabou se juntando ao grupo, Damon Mike e John começaram uma dança maluca pra fazer graça. Vi Justin do outro lado do salão, olhando pra nós, com medo de se aproximar do grupo, com Amber do lado. Não deixei que isso tomasse lugar nos meus pensamentos. Pelo menos até ela dar um beijo inesperado nele. Não quis ficar mais ali, ou saber se ele tinha gostado ou não.
   Ouçam Sia - Elastic Heart
  Todos estavam distraídos demais quando saí. Consegui me controlar bem até estar do lado de fora do corredor. Empurrei um vaso de vidro com plantas dentro no chão, uma mesinha, o cartaz da festa de hoje. Estava bem silencioso desse lado, e cada coisa que eu quebrava parecia fazer um barulho horrível.  Mas não me importei nenhum pouco. Deixei as lágrimas caírem. E foi assim até eu chegar na área externa. Só parei no meio da ponte de madeira que estava sobre o laguinho que dividia o campus, com os dormitórios do outro lado deste. Pus as mãos no corrimão e me permiti respirar fundo.
  Eu deveria saber que isso aconteceria um dia, mas admito que, não estava preparada. Olhei pra lua, e era como se a cena se repetisse várias e várias vezes, o beijo, Justin e outra garota. Era o ponto final. Eu sabia que tudo tinha acabado, mas a confirmação era bem pior, apesar de necessária. Respirei fundo uma, duas, três vezes.
- Ele é um idiota. - virei pra trás ao ouvir a voz de Sara. Não limpei meu rosto. Logo, ela estava bem na minha frente.
- Você está bem mais falante hoje. Porque se afastou de repente? Eu fiz algo errado? - perguntei. Não queria falar de Justin. Já tinha demais dele na minha cabeça, ele e seu beijo com Amber. Ela respirou fundo antes de responder.
- Eu sei. Sinto muito. É que estava sentindo coisas que não deveria, e temi tomar uma atitude e trair a confiança de um amigo. Mas percebi que ele está errando demais, e não merece toda essa cautela.
- Do que você está falando? - perguntei confusa.
- Não sei se vai gostar disso, mas eu sou gay. - ela disse.
- E?
- Não ficou surpresa? - perguntou. Parecia nervosa.
- Bom, surpresa sim. Mas se isso te faz feliz, eu fico feliz também. Ser gay não é um defeito, Sara.
- O ruim não é isso. É de quem eu gosto.
- De quem você gosta? E o que isso tem haver com você ter estado tão distante nesses últimos dias?
- Tem haver porque estou apaixonada por você, Anna. - fiquei ainda mais surpresa quando ela segurou meus ombros e me beijou. Nunca pensei que isso pudesse acontecer entre nós, mas comecei a entender o receio dela de ficar perto de mim, do jeito que me olhava ou quando parecia que estava massageando minha pele quando me ajudava com o filtro solar. Mas não recuei. Acabei retribuindo aquele beijo doce de uma pessoa que gostava tanto de mim.
- Que merda é essa? - nos separamos quando ouvimos a voz indignada de Justin, parado no começo da ponte.


NOTAS
 Oi gente. Passei um tempão sem postar, sinto muito. Espero que alguém ainda leia esta fanfic. Se sim, espero que tenham gostado do cap e me perdoem pela demora. Beijos e até o próximo :)
Roupa da Anna: http://data2.whicdn.com/images/30612372/large.jpg
Roupa da Cait: http://data3.whicdn.com/images/114423552/large.jpg
Roupa da Ash: http://data2.whicdn.com/images/113453344/large.jpg
Roupa da Sara: http://data.whicdn.com/images/147792874/large.jpg

9 de mai. de 2015

My Dear Nerd - Heart by Heart - Capítulo 25 - Chamo Isso de Amor

POV JUSTIN
  Vou tentar resumir meu dia, que por sinal, foi uma loucura! Uma verdadeira montanha russa de emoções.
   Então vamos começar do começo.
  As coisas estavam bem no inicio da manhã. Muito bem mesmo. Quando acordei, Anna estava fazendo panquecas. A mesa tinha comida suficiente para oito pessoas comerem até não suportarem mais. Até Sara e John estavam lá. Todos estavam rindo, sentados na mesa de jantar. Amora e Collin perseguiam um novelo de lã, e os outros dormiam preguiçosos ao lado de seus donos; ou o mais próximo disso que podiam. Todos pareciam felizes como nunca antes visto; ao menos pelo que lembro, que não é lá muita coisa. Sentei ao lado de Sara, que comia uma banana.
- Não é tão ruim assim. - reclamou a loira, do outro lado da mesa.
- Esse tipo de coisa faz com que sinta vontade de me jogar do ponto mais alto do prédio da faculdade. Como a Angelina fez. - respondeu Damon, mordendo uma torrada. A loira parecia irritada.
- Se bem que disseram que ela já caiu morta. - corrigiu Caitlin.
- Bom, pelo menos a vadia não tomou a decisão de morrer sozinha. - continuou Damon, com um sorriso.
- Será que vocês, por favor, pessoas más que deveriam me amar muito, focar no problema principal? - interrompeu a loira, no momento exato em que John ia fazer uma piada a respeito. Me arrumei na cadeira, confuso em saber qual era o "problema principal" ao qual ela se referia, e mesmo minha amiga Sara me advertindo com o olhar, fiz a pergunta que, segundos depois, percebi que não deveria ter feito.
- E qual é o "problema principal", loira? E porque está tão chateada? - perguntei. Ela largou a torrada com pasta de amendoim com um suspiro em cima do prato.
- Ninguém quer assistir meu filme comigo, acredita, pessoa que me ama? Ingratos! Todos vocês! - ela apontou para as pessoas na mesa. - Eu sou tão generosa em permitir que admirem minha beleza todos os dias, e como vocês me agradecem? Não querem nem assistir meu filme favorito comigo, e eu nunca peço nada em troca.
- Na verdade, se você nos deixa "admirar você" todos os dias e quer que assistamos o filme com você, isso é pedir algo em troca. - corrigiu Damon, que logo se ocupou com sua porção de ovos com bacon para não encarar a loirinha e sua carinha que dizia claramente "vou arrancar todas as suas unhas se não calar a boca agora".
- E qual é o nome do filme?
- Querida, Querida Unha. É um filme excelente, Justin. Você deveria ver. - sugeriu ela.
- Querida Querida...
- É um documentário sobre unhas. - Anna me interrompeu, trazendo um prato cheio de panquecas pra nós e com bastante molho. Sentou do lado da loira, o único lugar vago. - E, acredite em mim, você não quer mesmo ver.
- Hey, abelha, assim não dá! Vai que agora ele gosta do meu filme.
- Documentário. - corrigiu Mike.
- Isso também.
- Esperem um momento. Como assim, agora eu vou gostar? Eu já assisti isso? - perguntei, confuso.
- Já sim, mas é que agora você está falecido de memória e não lembra. - explicou Ashley.
- Desfalecido de memória? - Sara olhou estranho para Ash que deu de ombros.
- Gostaria de saber quem fez esse documentário, só pra dar neste ser humano cruel um banho de esmalte preto, aliás, de todas as cores, só pra ele aprender uma lição. - comentou John, enquanto repassava o prato de panquecas. Peguei as minhas e passei o prato para Sara
- Você já assistiu? - perguntei.
- Não tive como impedir. - ele fez cara de sofrido e todo mundo na mesa riu. Mike continuava com suas risadinhas tímidas, enquanto a irmã dava um sorriso de lado estilo Mona Lisa. Pensei que o choro de ontem tinha, afinal, ajudado. Sem falar que dormi muito mal noite passada, minha mente fixa no momento em que ela me beijou.
- Vocês, de fato, não sabem apreciar uma obra de arte! - disse Ashley, pondo mais calda de chocolate em suas panquecas. - Espero que um dia, Deus ilumine a cabecinha de vocês e finalmente percebam que sempre estive certa, que sempre estou certa e que sempre estarei certa. Mas ainda, infelizmente, não me ouvir é um mal que acomete a família americana e canadense e brasileira.
- Ainda bem. - comentou Sara. Dessa vez, todo mundo gargalhou. Sem exceção. Até Ashley que, mesmo meio brava com o comentário de Sara, deu uma risada antes de ficar séria de novo.
- É mesmo, é? - levantou e todos nós a olhamos ao mesmo tempo quando ela fez isso. - Sabem a ida à praia de hoje? Esqueçam.
- O que vamos fazer hoje, então? - perguntou Anna, confusa.
   Em troca, Ashley deu uma risada maléfica. Ou que ela achava que era maléfica.
[...]
   É, eles estavam certos. Redondamente certos. Ashley era a única que tinha um sorriso de um canto ao outro dos lábios, os olhos vidrados na tela da TV, tão empolgada com o filme que não tirava os olhos da tela. Os outros dormiam. Damon cochilava com a cabeça no colo da loira, Anna dormia apoiada em Sara que estava apoiada em John que se apoiava em Cait que fazia o mesmo com Mike. A loira e eu eramos os únicos que estávamos acordados.
  Era um documentário bem maluco, que finalizava com a frase "Cuide bem das suas unhas e elas vão te agradecer". Quando Querida, Querida Unha acabou e a loira percebeu que o pessoal acabou dormindo, choramingou para mim.
- Viu só, pessoa que me ama? Eles dormiram. De novo.
- Não fique triste. - tentei. - Até que gostei do seu documentário. - menti e vi que ela abriu um sorriso.
- Sério?
- Sim, ele é bem... hmm... curioso. - curioso para dizer o mínimo, pensei. Mas ela parecia bem contente.
- Viu só? Eu disse pra abelha que dessa vez você ia gostar! - ela sorriu ainda mais, apertando minha bochecha. Doeu um pouco, mas não disse nada. - Vamos assistir de novo quarta que vem? Certo! - perguntou e depois deu a resposta por mim. Enquanto eu percebia que teria que assistir aquilo mais uma vez, ela acordou todo mundo com gritos entusiasmados. Se eles estavam assustados com os gritos dela? Quem se importa? Eu vou ter que assistir Querida, Querida Unha de novo!
   Bom, depois que todo mundo tinha reabastecido as energias, fomos a praia. Enquanto os outros arrumavam as coisas, contei para Sara, John e Anna minha conversa com a loira e o quanto eu só pensava que tinha que voltar a assistir aquele documentário. Eles riram de mim, é claro, mas a parte boa dessas risadas é que Anna estava entre as pessoas que riam. E era muito, muito, muito bom mesmo ouvir o som da risada dela. Ela parecia menos triste, o que já era um grande avanço, considerando o quanto Anna é durona. E de repente, contar aquilo valeu a pena.
- Vocês podem ajudar aqui, ou está difícil? - Damon gritou de onde estava. Ele e Mike precisavam de ajuda com o guarda sol e John e eu fomos ajudar. As garotas estavam usando protetor solar, passando o creme umas nas outras. Discretamente, observei Sara passar a loção nas costas de Anna, que agora vestia apenas o biquíni verde que lhe caía tão bem, e imaginei não Sara, mas eu, a pessoa quem destruiria a loção no corpo dela. Imaginei se a pele dela era tão macia quanto parecia e como queria ser as mãos de Sara, quando Mike me deu um peteleco na orelha.
- Vai ficar cego se olhar demais. - ele riu e eu fiquei muito envergonhado. Arrumei o óculos e olhei para o mar, já que era bem pior observar o sorriso que ele tinha estampado na cara. Pior do que fazer, era ser pego. E fui pego com a boca na botija. - Relaxa cara. Não vou querer te bater ou outra coisa; você só estava olhando, apesar de que espero que não com segundas intenções "barra" pensamentos. - disse ele. Me apressei em assegurar-lhe que eu nunca faria isso com a irmã dele e ele assentiu com a cabeça.
- Como vai você? De verdade? - perguntei pra ele.
- Em relação ao senhor que morreu no meu ombro, quase neste mesmo lugar? Estou mal. - respondeu com um suspiro. - Você sabe que é o tipo de dor que não passa, a gente só aprende a conviver com ela. É o que estou fazendo. E acho que Anna também, do jeito dela, claro. Cada um tem seu jeito de lidar com a morte.
- Tem algo que eu possa fazer por você?
- Infelizmente não. O que nos deixaria feliz seria ter meus pais e avôs de volta, mas isso é impossível, então não há nada a ser feito. Eu só peço que não magoe minha irmã ainda mais. Não dê esperanças desnecessárias. Ela ainda te ama e não merece sofrer mais do que já está sofrendo. Já é o bastante, não é? - concordei com a cabeça, e fiquei admirado com a maturidade dele. De fato, Mike era a pessoa mais madura que conheci, pelo menos pelo que me lembro.
- Acho que estou apaixonado por ela. - falei mais rápido do que gostaria, apesar de jurar a mim mesmo que não contaria isso a ninguém até ter certeza absoluta. Ele só me olhou por uns instantes, como se precisasse pensar no que dizer. Eu nem sabia porque tinha dito aquilo.
- Certo. - foi o que ele disse, ainda um pouco surpreso com a rapidez da informação.
- E não sei o que fazer. Estou completamente confuso. Quer dizer, eu a amei muito antes? Posso amar de novo, ou preciso lembrar de tudo para...
- Você já amou uma vez, Justin. Pode amar de novo.
  Quando ele já estava razoavelmente longe de mim, ajudando os rapazes com as coisas, voltei a olhar para ela. E sorri.
[...]
 Ouçam Lionel Richie - I Call It Love
- Qual é, eu sei que fui melhor no arremesso. Mesmo sem os óculos. - me gabei quando já estávamos fora d'água. Anna bateu em meu ombro, o que me fez rir mais. Andávamos juntos pela areia da praia até onde estavam nossas coisas. Tinha sido um dia muito divertido, e eu estava me gabando naquele momento de saber jogar bem vôlei. Mas ela não parecia nenhum pouco chateada por isso. Na verdade, parecia diverti-la. Me perguntei se já tinha feito aquilo antes.
- Você roubou, estou dizendo. - retrucou, balançando a cabeça com um sorriso tímido nos lábios. Ela estava linda, ainda mais linda, com aquele biquíni que destacava ainda mais suas curvas perfeitas, os cabelos e corpo molhados, as bochechas rosadas e os olhos que pareciam ainda mais verdes e ainda mais brilhantes. Nos sentamos no pano estendido sobre a areia, em baixo do guarda sol, lado a lado, separados apenas por alguns centímetros.
- Achei ofensivo. - ela riu. Foi inevitável. E ri junto, ainda olhando pra ela.
- Eu cozinho para você, mantenho sua barriga cheia da melhor comida que vai provar em toda vida e ainda sim diz que foi ofensivo? Deveria te dar uns bons chutes no traseiro por isso. - ri de novo.
- Se você alcançar. - dei de ombros. Ela me olhou de cima a baixo, como se estivesse se decidindo sobre o que fazer, então, levantei depressa e saí correndo pela areia, com ela atrás de mim.
- Volte aqui, imediatamente, ou você vai ser incapaz de sentar por meses. - ela berrava, mas eu podia ouvir o riso em sua voz. Então ri ainda mais, entrando na água, sabendo que lá, seria mais difícil dela me chutar (porque eu tinha certeza de que ela conseguiria se estivéssemos em terra, ouvi Damon e Ashley falarem demais para ter certeza absoluta disso. E Damon disse que um chute no traseiro era garantido, não importa a altura da vítima). Anna veio atrás de mim, mas já estava tão cansada e respirava tão rápido que a segurei até que ela tivesse se recuperado um pouco da corrida. Resolvi brincar com ela.
- Isso que dá ter pernas curtinhas. - brinquei, rindo. E foi aí que a coisa ficou estranha. Ela estava rindo no começo, mas as risadas se transformaram em choro. Um choro contido e baixinho, mas ainda sim um choro. E pude sentir a agonia dela. Me arrependi imediatamente de ter feito aquela piada. - Me desculpe, por favor. Perdão. Não queria chatear você, só estava brincando. - tentei me desculpar, mas ela negou com a cabeça, olhando pra mim.
- Não estou chateada com isso, Justin. - ela respirou fundo, tentando se acalmar. Enxuguei suas lágrimas, esperando ela voltar a falar. - Enquanto eu corria atrás de você, com o coração batendo tão rápido e com o pulmão procurando por ar e as pernas cansadas, percebi que estou viva. Vivíssima! - ela voltou a chorar de novo. E entendi onde ela queria chegar.
- Eu sei. Eu sinto muito. Muito mesmo!
- É horrível, finalmente cair a ficha que ele não vai mais voltar. Que nunca mais vai correr como nós, sentir o cheiro do mar o vento nos cabelos, ouvir uma boa música, comer um belo café da manhã, sentir o coração bater rápido no peito, ler um bom livro, ou ver os netos se formarem na faculdade e se casarem. Eu percebi que estou viva e ele não. E dói tanto. Só quero que pare de doer. - ela parecia derrotada de novo, totalmente perdida. Toquei seu queixo com o dedo indicador e ergui lentamente a cabeça. Ela já não se preocupava em esconder as lágrimas.
- É horrível mesmo. Mas quer saber? Um dia, vai deixar de doer. E aí, você vai lembrar dos bons momentos que teve com ele e pensar no quão sortuda foi por ter estado com ele. E isso vai encher seu coração de alegria, porque tenho certeza que ele gostaria de encher o coração de vocês de alegria e amor ao lembrar dele. E enquanto ele estiver em seu coração, ele sempre estará com você.
- Obrigada. - ela sorriu fraquinho e me abraçou forte. Anna apoiou a cabeça na curva do meu pescoço enquanto minhas mãos rodeavam sua cintura de forma protetora. Fiquei feliz por estar vivo para sentir a respiração dela em meu pescoço. Voltei a falar.
- E não, você não me perdeu. Só estou tentando achar meu caminho de volta pra você.


19 de abr. de 2015

My Dear Nerd - Heart by Heart - Capítulo 24 - Férias de Verão


POV JUSTIN
 Férias de verão.
 Isso mesmo. Sempre gostei muito das férias de verão, apesar de gostar muito mais de aprender. Uma pausa para relaxar era sempre ótimo, e as vezes, até mesmo uma coisa necessária. E eu até que estava precisando parar e por os pensamentos em ordem. Preciso admitir que algumas coisas estão começando a aparecer. Apesar de serem vagas, é claro. Mas lembro, por exemplo, da primeira vez que falei com Anna Mel, e também da formatura. A mais confusa é uma em que eu, aparentemente, estou tentando tomar mais remédios do que um ser humano poder suportar, mas estou nervoso demais e não consigo abrir a tampa. É quando Anna aparece e briga comigo para tirá-los de mim. Mas a lembrança termina aí.
  Ninguém ainda sabe disso, é claro. Nem mesmo meus amigos, Sara e John. Até porque são poucas e confusas demais para que eu mesmo entenda. É difícil por em ordem cronológica. Outra coisa com a qual me sinto ainda mais confuso é o que realmente sinto em relação a baixinha que ainda está deprimida demais para se divertir. Sinto que posso estar "afim" dela, mas não a amo. Acho. Ou até apaixonado. É. Acho que posso estar apaixonado por ela. O fato é que ela é simplesmente encantadora, mesmo quando está triste. Enquanto todas as meninas passavam protetor solar e conversavam alto, entre risadas e os garotos comiam algo da cestinha de piquenique, ela estava na sombra de uma árvore, lendo Em Chamas. Ela estava lendo muitas distopias ultimamente.
  Tirei a camisa, ficando apenas de calção de banho e fui até ela.
- É bom? - perguntei me referindo ao livro, assim que sente ao lado dela. Ela levantou devagar a cabeça, e me olhou como se não acreditasse que eu tinha interrompido a leitura dela.
- Bem... eu ainda estou na metade. - mostrou o livro com seu dedo marcando o meio das páginas. - Mas como está valendo muito a pena, posso dizer que é bom.
- Legal. Sabe, eu leio de tudo, mas gosto mesmo é de fantasia fantástica e ficção científica. Você já leu Star Wars ou O Guia do Mochileiro das Galáxias? - perguntei, tentando iniciar uma conversa. Digamos que, depois que perdeu o avô, ela não está tão comunicativa como antes.
- Parei na metade do terceiro livro do Guia do Mochileiro das Galáxias. É engraçadinho, mas... sei lá!
- Porque todo mundo diz isso, " é engraçadinho, mas... sei lá!"? - ri enquanto ela marcava a página e deixava o livro ao lado. - Quer dizer, eu gosto muito. Li muito rápido. Lembro que foi complicado conciliar os exercícios de matemática da escola com os livros.
- Eu sei que gosta.
- Sabe? - olhei confuso para ela.
- Porque foi você quem me apresentou essa série. Na verdade, eu comecei a ler porque não aguentava mais ouvir você falando o tempo inteiro que iria reler e que eu deveria fazer o mesmo pois era muito bom. E quando comecei a ler o primeiro, você ficou tão empolgado, que quase me soltou um spoiler. E também ficou muito desapontado quando desisti da série. Mas eu prometi que voltaria para ela.
- E voltou?
- Não. - tive que rir disso. Primeiro por ser engraçado o modo como ela disse aquilo. Mesmo sem ter claramente a intenção. Segundo, por imaginar que meu outro eu estaria inquieto pela demora dela para retomar a leitura.
- Então deve terminar. É muito bom.
- Você me dizia isso também. E também roubava minha comida.
- Não, eu não faria uma crueldade dessas! Jamais roubaria sua comida! - brinquei, o que me fez pensar ter visto um vislumbre de um sorriso no rosto dela.
- Vamos dar uma caminhada. - levantei junto com ela. Ashley virou para nós, sem entender, já que nós estávamos nos afastando do grupo.
- Hey, pessoal! Estão indo para onde? - gritou ela, acenando para nós.
- Relaxa, vamos dar uma volta. Estamos com os celulares e dinheiro. Ligo qualquer coisa. - berrou Anna de volta, tranquilizando a amiga. Uma coisa engraçada é essa devoção feminina. Nessas últimas semanas, Caitlin e Ashley dormiam com Anna Mel, em uma tentativa de mostrar apoio e proteção (mas claro, em dias alternados para não tirar a privacidade que ela também precisava).
- Lembrei da vez que te conheci. - contei, mesmo sem saber porque estava fazendo aquilo, quando eu tinha prometido para mim mesmo não fazer até ter uma quantidade suficiente para isso. Ou quando as coisas ficassem menos confusas. Ao meu lado, ela andava lentamente, e quando falou, sua voz soou não animada ou distante, mas sim cuidadosa.
- Lembrou de quando me conheceu?
- Sim. Bom, eu acho. A lembrança em si é quando eu estava andando pelo corredor da escola de cabeça baixa e de repente trombei em alguém. Esse alguém era você. Acho que te derrubei no chão, mas mesmo assim não ficou brava comigo. Levantou, sorriu pra mim e disse que estava tudo bem. Tudo é um branco depois disso.
- É uma boa notícia, afinal. - disse mais pra ela do que pra mim. - E lembra de mais alguma coisa?
- Minha cabeça está uma confusão danada. É difícil dizer o que é uma lembrança real de algo que minha cabeça cria. Mas estou me esforçando para lembrar. - assegurei para que ela não ficasse ainda mais triste.
  Eu me senti confortável ao lado dela, e por isso, talvez, tenha dito aquilo. E também por não ter muitas pessoas onde estávamos. Quando ela abriu a boca para me dar uma resposta, duas crianças passaram correndo por nós. Em seguida, um senhor que parecia ter quase setenta anos, corria atrás dos pequenos.
- Voltem aqui, crianças! - gritava ele.
- Você tem que pegar a gente, vovô. - gritou de volta o menininho, enquanto a garotinha do lado dele ria. Imaginei se Anna e Mike já brincaram assim com avô deles, se foram muitas vezes e se era divertido. Pensei em perguntar isso para ela, mas quando virei o rosto, vi que Anna não estava mais ao meu lado. Ela tinha parado de andar, e tinha ficado poucos passos atrás de mim. Fui até ela, confuso, mas entendendo a razão logo depois. Ela olhava pro mar, mas tinha lágrimas molhando seu belo rosto. Nunca a tinha visto chorar, por isso, não sabia o que fazer.
- Estou bem. - afirmou, sem nem mesmo olhar pra mim, mas sabia que estava mentindo. O fato era que ela não estava aguentando mais.
- Não, você não está. - cheguei mais perto, mas ela ainda evitava meu olhar.
- Tá bom, não estou bem. Satisfeito? - quando finalmente se virou para mim, não se importou em fingir que não estava chorando, como sempre fazia desde o ocorrido. Fiquei triste por vê-la assim. - É que eu sinto tanta falta, que... que dói! Ele morreu, Justin. Oh meu Deus!... - aí ela começou a chorar de verdade. De soluçar. E eu a abracei o mais forte que pude, e Anna retribuiu meu abraço, escondendo o rosto na curva do meu pescoço. Ela dava leves tremidinhas por causa do choro, o que me fazia abraçá-la ainda mais forte.
  Me sentia triste por ela, como se quem estivesse passando por essa perda fosse eu e não Anna. Mas me peguei gostando daquele abraço. A verdade era que não queria mais largá-la. E não me importei nenhum pouco por termos ficado por horas ali, abraçados, enquanto ela se acalmava. Eu deixei beijos em seus cabelos, e disse que ia ficar tudo bem. E ia ficar tudo bem. Porque eu não ia deixar que mais ninguém a fizesse chorar. Nem mesmo eu.
[...]
  O som das risadas foram abafados quando fechei a porta da sala. Caitlin e Damon contavam piadas. Mike estava dando risadas tímidas, muito tímidas mesmo, mas era um avanço. A noite estava fria em contraste com o dia ensolarado que tivemos. Anna estava parada na frente das escadas, apoiada na pilastra que sustentava o teto do terraço. Não tinha ninguém na rua. Meus passos até ela foram silenciosos e lentos.
 Ouçam Kerli - Chemical
- Oi. - falei quando parei ao lado dela. Pus uma das mãos nos bolsos, enquanto a outra arrumava os óculos.
- Oi.
- Você está melhor? - perguntei. Anna suspirou quando olhou pra mim. E seus olhos verdes encaravam os meus, castanhos. Me deixei levar pela beleza dos olhos dela e pelo som da voz de Anna. Parecia um anjo.
- Como você consegue?
- Não entendi.
- Como você consegue ser tão amável? Tão confiável? Eu nunca chorei na frente de ninguém e, de repente, você aparece e... Meu Deus! - suspirou, dando um passo a frente, em minha direção. - Quer dizer, aquilo não deveria ter acontecido. Eu simplesmente chorei como um bebê e... Estou com raiva, muita raiva, porque não consigo não amar você e nem deixar de confiar. Porque eu te amo, Justin. Mesmo sabendo que perdi você. Assim como perdi meus pais, meus avós. E perder todos vocês é a pior coisa que já me aconteceu.
- Você está com raiva de mim?
- Estou. Porque essa situação toda me deixa maluca. Você me deixa maluca. Porque estar perto de você me deixa louca. E não estar perto de você, me deixa louca.
  E eu fiquei ali, parado como um idiota, olhando pra ela sem entender. Fiquei nervoso, com o coração batendo a mil, sentindo pela primeira vez uma vontade louca de beijá-la. Estava tentando não ficar nervoso quando ela andou até mim, segurou meu rosto com as duas mãos e me beijou. Segurei sua cintura, amando a sensação maravilhosa da boca dela na minha. O beijo durou apenas alguns segundos; mas segundos suficientes para que eu nunca mais me esquecesse dele. E quando abri os olhos, encontrei os dela enquanto seu polegar acariciava meu rosto.
- Eu tive semanas péssimas. Precisava disso. - explicou baixinho. - Boa noite, Justin. - ela soltou meu rosto devagar e caminhou para dentro de casa.
 E eu continuei lá, parado, com um sorriso idiota na cara.

30 de mar. de 2015

My Dear Nerd - Heart by Heart - Capítulo 23 - Luto

POV JUSTIN
 Na hora do jantar, duas semanas depois do enterro do avô de Mike e Anna, o silêncio entre os ocupantes da mesa já era esperado. Os irmãos estavam sentados lado a lado e falam apenas quando era necessário. O único som alegre era o dos cães que andavam de um lado pro outro pela casa, como se não tivessem a mínima ideia do que estava acontecendo. Eu tinha a estranha sensação de que Anna estava me evitando. Era como se não quisesse olhar pra mim. Ouvi uma conversa entre Damon e Ashley de que a baixinha sempre se fechava em seu mundo quando uma perda desse tipo acontecia. E que não sabia o que fazer pra ajudar, porque Anna Mel recusava ajuda. Mas ela precisava. E esse orgulho só piorava as coisas.
  O Spring Break se aproximava, e em uma semana, estaríamos viajando para Miami, onde iríamos passar essas férias. Nesse meio tempo, houve festas na faculdade e teria uma dessas amanhã a noite. Quando terminou, ela saiu da mesa e foi pro quarto com Amora seguindo a dona de perto. Foi quando Mike também se retirou, que a tensão entre nós acabou. Ashley suspirou tão profundamente que parecia que tinha ficado muito tempo sem respirar. Um detalhe é que a morena baixinha não cozinhava mais. E nunca mais a vi quando passava minhas noites em claro e ficava do lado de fora, vendo as estrelas. E senti falta daquilo porque desde aquele dia que ela quase me acertou a cabeça, nos víamos quase sempre durante as madrugadas de insônia.
- Não aguento mais ver esses dois tão tristonhos assim! Parece que tá morrendo um atrás do outro da família deles, meu Deus! - desabafou a loira, deixando o prato vazio na mesa. - Sinceramente não sei como estão aguentando.
- Não estão aguentando. - corrigiu Caitlin. E era verdade. Nenhum dos dois estava. Porém Mike estava um pouco melhor do que a irmã. - Temos que fazer alguma pra ela se distrair um pouco. Sei lá, tentar levar ela para a festa de amanhã. - sugeriu ela.
- Duvido que queira ir, Cait. - respondeu a loira, frustrada.
- Talvez o melhor a fazer seja deixar os dois passarem pelo luto sozinhos, como querem. Quando pedirem ajuda, vamos estar aqui. Como sempre estivemos. - o que Damon acabou de falar foi a coisa mais sensata que já ouvi depois dessas últimas semanas.
 Ouçam: Taylor Swift - Safe and Sound
 Horas depois, todos estavam nas suas camas,assim como eu. Mas eu não conseguia dormir. Bem diferente de Collin, que parecia estar do décimo sonho. Desisti da minha tentativa ridícula de dormir e levantei da cama. Pensei em pôr os óculos, mas acabei desistindo e fui sem eles até o quarto dela. Abri a porta, e pela luz baixa do abajur, vi que ela estava acordada. Deitada de lado na cama, o rosto de na direção da porta, abraçada a cadelinha, que obviamente era uma companhia melhor do que um urso de pelúcia. Mas ainda sim, não disse nada quando me viu.
 Fechei a porta, agora atrás de mim, me deitei ao lado dela, e ficamos assim por alguns minutos.
- Oi. - finalmente disse, baixinho. Ela só acenou devagar com a cabeça. - Sem dormir de novo? Já passam das duas da manhã, sabia? - minha tentativa de bronca "barra" piada não deu certo, obviamente. - Sinto muito por seu avô.
- Eu também.
- Quero te mostrar uma coisa. - levantei devagar da cama e sai do quarto.
  Ela me seguiu devagar, muitos passos atrás de mim. Cheguei ao jardim atrás da casa e deitei na grama. Durante todo esse tempo não olhei para trás, não descaradamente, é claro. Anna deitou do meu lado, alguns centímetros de distância. Não estava com Amora.
- Hoje dá pra ver as estrelas. Olha. - eu falava baixo, mas sabia que ela podia me ouvir. E ela olhou pra cima. E fiz o mesmo, observando o céu estrelado que se estendia em sua vastidão infinita a cima de nós. - Acho que seu avô está em algum lugar por ai, perto daquelas outras duas, acho. Quem sabe até toda a sua família que morreu.  - comentei, me referindo a um conjunto de estrelas.
- Não tenho cinco anos, Justin.
- Desculpe, eu só queria...
- Ajudaria se parasse de me tratar como criança. Sei que nenhum deles está lá. - foi firme e direta. Acatei seu pedido. Parei de tratá-la como criança.
- Você precisa parar com isso. Se trancar no seu próprio mundinho e esquecer de viver. Ignorar as pessoas e agir como se nada mais fosse importante. Ashley está ficando perdida, e as vezes a ouço chorar, mas graças a Deus, Damon sempre está lá para confortá-la. Você está magoando-a.
- Estou magoando a loira? Vou te dar uma dica: meu avô morreu, Justin.
- E isso te dá o direito de...
- Me dá o completo direito. Sei que está me comparando com meu irmão, mas a forma como lidamos com a perda é totalmente diferente. E ela vai superar.
- Não pode ser assim, Anna.
- Seria muito melhor se parasse de me tratar como criança, parar de ter pena de mim. Só me deixem em paz. Isso não é pedir muito.
- Então nos diga como lidar com o fato de você simplesmente deixar de viver? Eu até te daria apoio, mas acontece que me importo com você, e me incomoda te ver desse jeito. E se quer saber mesmo, está sendo idiota por afastar as pessoas de você.
  Como se tudo estivesse cooperando para tornar a situação ainda mais ruim, as nuvens começaram a aparecer, escondendo as estrelas e dando claros sinais de que logo iria chover. Ela não me respondeu de imediato, e fiquei muito mal com a sensação de tê-la magoado ainda mais do que já estava magoada. Mas era a verdade. E ela também sabia disso, apesar de permanecer no erro.
- Sonho com eles a noite. - contou ela, baixinho. - Antes, era esporadicamente, mas agora, não só sonho com eles, mas também é como se eu revivesse o momento de suas mortes até mesmo quando estou acordada. Até as que não estive presente, como o suicídio do meu pai. O tempo todo.  Só consigo dormir se tomar pílulas para dormir, mas não vou ficar dependente de remédios.
- Quer contar sobre a morte dessas pessoas? Pode aliviar, desabafar sobre isso.
  Anna deu um suspiro cansado, como quem está quase desistindo de lutar. Uma chuva fininha começou, e o céu agora estava negro, como se estivesse sentindo a dor dela.
- É muito difícil pra mim falar sobre isso. Não sei se consigo. E não quero tentar. - ela olhou pra mim, e vi seus lindos olhos verdes marejados. Aquilo doeu em mim. - Não sei explicar o quanto dói, Justin. Dói tanto que só consigo me focar na dor que sinto e no quanto me sinto sozinha e perdida agora.
- A única coisa que quero é ajudar. Não sei porque, mas odeio ver você assim.
- Quer ajudar? Então, por favor, nunca mais me julgue. Você não faz ideia do que é estar se recuperando de uma perda e vir outra pra te por no chão de novo. Você não faz ideia de nada. Quando eu não aguentar mais, pedirei ajuda. Prometo. - a voz dela era tão baixinha, enquanto a chuva ficava mais forte, mas nenhum dos dois se moveu para sair dali. Ela fechou os olhos, a cabeça virada para cima. Quando peguei sua mão, sua pele estava fria e Anna tremeu levemente ao meu toque.
- Não fique mais ausente. Nós precisamos de você. Eu preciso de você.
Parem a música
[...]
 Foi um dia divertido. A aula tinha sido maravilhosa e ao mesmo tempo muito engraçada. Minha amiga Sara é claro, que contribuiu para isso. Me fez até esquecer da madrugada de hoje com Anna. Uma das muitas qualidades de Sara era fazer qualquer um rir mesmo não querendo. Mas antes que diga, Anna Mel e Mike são uma exceção. Saímos de braços dados da sala, rindo feito idiotas. Um garoto que passou por nós, piscou para ela, que como sempre fez piada quando ele estava longe.
- Sou tão gata assim?
- Você é gata sim, mas está andando demais com a Ashley. - comentei rindo. Esse era o único dia que todos nós tínhamos o mesmo tempo livre, por isso foi fácil ver uma roda de jovens cheios de livros espalhados e conversando muito. Mike estava concentrado em seu livro de psicologia, enquanto Anna arrancava o capim do chão. John também estava lá, e nos sentamos perto dele.
- Acho que Sara está ficando como você, loira. Só falta pintar o cabelo. - comentei e Ashley ficou muito contente com aquilo.
- Jura? Se quiser, eu te ajudo a encontrar uma coloração que vai ficar super lindo em você e vai parecer bem natural. - começou ela, animada - Vou tornar você minha fiel discípula.
- Porque tenho que ser fiel? - perguntou e todos na roda riram. Tá não foi todos.
- Estou te oferecendo a oportunidade de ser minha companheira de beleza e você faz piada? Você não merece tal honraria! - a loira jogou uma mecha de cabelo para trás, meio ofendida meio rindo.
   A conversa seguiu esse ritmo feliz por um bom tempo, mas não por tempo suficiente. Porque Emília chegou mais uma vez para estragar a pequena harmonia que se instalou ali, Ela fez piadas de mal gosto, que ignoramos, mas tudo mudou quando ela passou a se referir particularmente para Mike e Anna. O estopim da briga foi Emília ter zombado da morte do Sr. Montês e Anna partiu tão rápido pra cima da outra que ninguém teve tempo de pensar em segurá-la. Um dos garotos tentou tirá-la de cima de Emília, mas Mike interviu, dando-lhe um soco que o fez cair no chão. Ele estava furioso.
- Nunca mais encoste na minha irmã! - segurou-o pela gola da camisa e bateu de novo até tirar sangue do garoto. Do outro lado, Anna desferiu o último soco na já desmaiada Emília. Os irmãos ficaram lado a lado, enquanto o resto de nós ainda estava estupefato com o que tinha acontecido.
- Vamos sair daqui. - disse ele.
- Sei pra onde. - ela respondeu. Eles saíram.
 Fiquei perplexo por saber pra onde exatamente Anna o levaria.
 Os segui minutos depois.
[...]
 Eles estavam enfaixando a mão um do outro, mas não falavam muito. Era aquele mesmo pub na praia que ela me levou antes do pior acontecer. Fiquei numa mesinha distante deles, e a distância me impedia de ouvir o que diziam. Arrumei o óculos observando Mike beijar gentilmente a testa da irmã e ir embora. Ela ficou ali, olhando pro nada, a xícara de chocolate quente intocada. Resolvi me aproximar dela.
- É feio seguir as pessoas, Justin. - disse,assim que me sentei de frente para ela, mas não parecia zangada.
- Não segui. Quando cheguei vocês já estavam aqui.
- Como sabia que estava aqui? - quis saber, e no fundo, nem eu mesmo sabia como aquele lugar me parecia tão óbvio, mesmo não sendo tão óbvio assim. Além do mais, ninguém a encontraria aqui além de mim.
- Não sei, eu simplesmente soube.
- Está começando a se lembrar, então. Isso é bom.
- Esse lugar tem alguma importância pra nós? Tivemos momentos importantes aqui? - perguntei, curioso. Ela acenou com a cabeça.
- Sim, tivemos momentos aqui. Mas com certeza, o Justin que eu conhecia, sabia o suficiente sobre mim para me achar aqui. Sem nem mesmo precisar pensar. - sorri ao saber daquilo. Era um bom sinal, afinal. Aquilo me deixou mais esperançoso. Por que não precisei pensar pra onde ela o levaria, eu só sabia. - Veio aqui me dar uma bronca por hoje cedo? - perguntou, tomando pela primeira vez, um gole de seu chocolate quente.
- Não. Não posso dizer que achei certo o que fez, mas entendo porque fez. E me colocando em seu lugar, acho que faria a mesma coisa.
- Acha?
- É. Eu me certificaria de que ela tivesse o suficiente para não esquecer de mim. Mas você fez um bom trabalho. - ela quase riu, mas não passou disso.
- Acho que gosto mais de você agora. - eu ri, arrumando de novo aquele bendito óculo.
- Mas não quer dizer que estou incentivando você a repetir aquilo.
- Sabe aquilo que dizem de cantar vitória antes do tempo? Pois é. - ri de novo, mesmo sabendo que não era intenção dela fazer piada. - Mesmo perdendo a memória, não deixa essa coisa de ser você.
- É uma característica minha. - pisquei pra ela,
- Acha que vou ser expulsa?
- Creio que nesse caso, uma suspensão para ambas as partes já é o suficiente. - expliquei pra ela.
- Realmente preciso de um tempo longe daquele lugar, de qualquer maneira.Ver aquela garota me enoja profundamente. - comentou Anna. Pensei na festa de hoje a noite, e que ela precisava de uma distração momentânea. E também porque queria levá-la.
- Quer ir a festa de hoje comigo?

24 de mar. de 2015

My Dear Nerd - Heart by Heart - Capítulo 22 - Sobre Anjos

 POV ANNA
   Acordei sentindo alguém me cutucar o meu ombro. Meu corpo estava dolorido devido a cadeira do hospital que, mesmo acolchoada, era desconfortável. Olhei de Sara para meu avô, dormindo no leito, com vários equipamentos ligados a ele por agulhas, para levar soro para ele e essas coisas.
- Eu trouxe isso pra você. - diz ela, estendendo um saco pra mim. Era um saco de papel pra viagem, e me perguntei como ela voltou da lanchonete tão rápido.
- Rosquinhas e cappuccino?
- Foi a primeira coisa que pensei. Não é nada nutritivo, eu sei, mas vai manter seu estômago cheio até poder comer algo de verdade. - ela sorriu, sentando na cadeira ao meu lado. Meu irmão estava dormindo em uma cadeira parecia com a minha na outra ponta da sala. Sara foi até ele, o acordou, e lhe entregou um outro saco que estava em suas mãos. O último, era para ela.
- Obrigada. - agradeci quando ela voltou para o meu lado.
   Meu avô, Victor Montês, teve uma "crise do câncer". Mike e eu estávamos com ele quando aconteceu. Já no hospital, o doutor disse que nada se podia fazer por ele além de dar remédios que reduzissem sua dor. E disse também que ele não tinha muito tempo. Fiquei me perguntando como ele conseguiu o visto para viajar, estando tão doente. Como minha tia permitiu isso. A resposta veio segundos depois. Era uma despedida.
   A crise dele foi no dia seguinte a minha saída com Justin. Estou aqui desde a tarde de ontem.
- Cadê os outros? - perguntou ela.
- Ashley e Cait foram pra casa pra pegar algumas coisas pra mim. Os rapazes foram ajudar e parece que Justin e John irão dar o banho nos cães hoje. - expliquei.
- Prevejo que os rapazes ficarão mais molhados que os cães. - comentou. Mesmo naquela situação, me deixei rir baixinho daquilo. Eu tinha terminado minha rosquinha quando meus amigos chegaram. Vinham em silêncio como o médico tinha recomendado. John e Justin pareciam exaustos e os imaginei dando banho em nossos cinco cachorros.
- Oi abelhuda. - a loira me deu um abraço apertado. - O vovô abelhudo acordou?
- Ainda não. - Sara cedeu seu lugar ao meu lado pra Ashley sentar. Mike levantou e sentou do outro lado da loira. Ela segurou nossas mãos e deu um sorriso.
- Ele vai ficar bem, vão ver só! Vai viver mais do que a gente. Irá ver todos os nossos bisnetos fabulosos.
- O estado dele é terminal, loira. Agradeço que queira ajudar, mas mentir pra nós e pra si mesma não vai ajudar. - respondeu meu irmão. Ele não foi grosso, só foi... sincero. Não havia mais esperança na situação dele. E foi por isso que fiquei sem resposta.
- Vocês precisam de esperanças...
- Mike está certo, Damon. Qualquer um aqui sabe que isso é perda de tempo. - interrompi, levantando da cadeira.
- Pra onde você vai, Anna? Eu trouxe jogos!
- Vou tomar um ar, Ashley. Volto logo. - beijei sua testa e sai antes que alguém pudesse dizer alguma coisa.
  Caminhei até encontrar uma janela bem grande, onde pude ver o sol se por. Era tão lindo. Pela milésima vez no dia, me perguntei se meu avô veria um desses antes de morrer.
- Essa é minha parte favorita do dia.
- O que você está fazendo aqui, Justin? - ele estava ao meu lado agora. Mas levou alguns segundos pra responder.
- Você precisa de apoio. De um ombro amigo. De alguém que se importe com você.
- Se importa comigo?
- Também fiquei assustado com a rapidez com que você se tornou alguém com quem me importo. Não sei como explicar, só sei que odeio te ver desse jeito.
- Que "jeito"?
- Sem esperanças. Triste.
- Esse é o tipo de coisa que não da pra evitar em uma situação como essas.
- Nunca passei por uma perda como essas, pelo menos não que me lembre, mas, você nunca vai ficar sozinha. Tem seu irmão, sua tia, seus amigos. Tem a mim. - ele segurou minhas mãos entre as dele. - Você tem que ser forte.
- É o que tento fazer desde que meu pai se matou, Justin. Desde que minha avó morreu, minha prima quase me matou, e minha mãe morreu num acidente de carro. - ele parecia surpreso com aquilo, mas não fiquei surpresa por estar triste por ele não lembrar disso.
  Mas fiquei surpresa com o abraço. Porém não o recusei. Aquilo me fazia sentir tão protegida e amada, que desejei ficar assim pra sempre. Era tão bom. Mas tivemos de nos separar e voltar para o quarto de hospital. Já era noite quando abri a porta. Ele tinha acordado, e o médico parecia frustrado. Meu irmão estava ao lado do vovô, e não demorei muito pra ficar perto deles.
- Ele quer sair daqui. - disse Mike.
- Estou tentando explicar pro seu avô, Anna, que sair daqui a essa altura é perigoso. Ele pode morrer a qualquer momento e sem os remédios para dor...
- Vou morrer estando ou não estando aqui. Esses remédios me fazem dormir o tempo inteiro e não viajei de tão longe para morrer nesse hospital, sem ver meus netos antes de partir. Quero estar com minha família. Ou não posso ter o direito de morrer em paz? - Vovô parecia aborrecido e um tanto desesperado.
   Entendi o lado do doutor. Ele só estava tentando ser um bom profissional, tentando mantê-lo sem dor, já que mais nada podia ser feito. Mas também entendi meu avô. Era o último pedido dele. Morrer em tranquilidade, ao lado da família. Por isso foi ver Clarice, a prima que tentou contra minha vida. Por isso ele está aqui. Por isso minha tia está vindo pra cá. Ele queria uma despedida. E ninguém tiraria isso dele. Mike parecia ter compreendido isso também, porque o que dissemos juntos, foi a coisa mais difícil e ao mesmo tempo certa de se fazer.
- Ele sairá daqui.
[...] 
 Ouçam Not About Angels - Birdy
  Os problemas burocráticos foram resolvidos com rapidez. Dois dias depois, meu avô saia do hospital para o ar da manhã de sexta, sentado em sua cadeira de rodas, que era empurrada por Mike. Vovô parecia aliviado por poder ver o dia novamente. Minha tia chegou dois dias atrás com seu marido e uma barriga de grávida bem visível e redonda.
  Foi no carro dela que o colocamos e seguimos caminho em família. Meus amigos estavam no carro de trás. Foi ali também que ele, vovô, decidiu parar na praia para fazermos um piquenique. O que foi fácil, já que Ashley tinha jogos, os garotos uma bola de futebol americano e Sara tinha comida.
  O levamos de cadeira de rodas até a areia, e pusemos a toalha de piquenique de baixo da sombra de alguns coqueiros. Já sentado, pusemos as coisas ali. Era um circulo grande e risonho, o que formamos ali. Piadas, momentos constrangedores e loirices eram ditas. Apoiei a cabeça no ombro do meu velhinho e rindo dos meus amigos. John, Damon, Justin e Mike estavam empolgados com as dicas do marido da minha tia de como "pegar" mulher. Damon levou um puxão de orelha, é claro. Mas os outros três riam bastante.
   Então foi decidido que todo mundo ia jogar futebol americano. Ficamos apenas Mike, vovô e minha tia, por estar grávida, apesar que ela não queria sair de perto dele. Eu suspeitava que eles já tinham conversado, e eu sabia que ele sentia muito por não ver seu outro neto nascer. Me endireitei e vovô apoiou sua cabeça no ombro do meu irmão, seguido de um suspiro. Queria muito saber se o remédio para a dor que ele tomou antes de sair do hospital ainda fazia efeito. Ele pegou minha mão e fez um carinho.
- Sou o avô e o pai mais orgulhoso e sortudo do mundo. E eu os amo. Vocês são a família que eu pedi a Deus, e não poderia querer nada melhor do que isso. Até porque não existe e nem jamais existirá algo melhor que vocês. Sejam fortes, fiquem unidos. E continuem sendo essas pessoas maravilhosas que são. 
- Nós também te amamos. Amamos muito. - respondemos Mike, eu e tia Alice, fazendo o possível para não chorar, para ser forte, como ele pediu. Ele respondeu dois minutos depois, ainda com a cabeça apoiada no ombro do meu irmão, e com uma voz tão baixinha que era quase um sussurro.
- Minha família querida.
  O aperto de mão afrouxou.
  Em seguida o silêncio.
  E ele morreu com a cabeça apoiada no ombro do meu irmão.

12 de mar. de 2015

My Dear Nerd - Heart by Heart - Capítulo 21 - Wild Heart

POV ANNA
  Fiquei ali, sentada ao lado do meu avô, contando sobre o que tinha acontecido nos últimos dias. E também nos últimos anos. Ele era a única pessoa que a quem eu admitia, sem vergonha nenhuma, que chorava. Disse como chorei pela morte da vovô, a esposa dele, e como chorei pela morte dos meus pais. Ele logo entendeu que o motivo de não chorar na frente de ninguém era simplesmente porque eu odiava olhares de pena que as pessoas faziam, mesmo involuntariamente. E ele me entendeu e não julgou minha atitude.
  Meu avô era a pessoa mais sábia que já conheci, e era maravilhoso conversar com ele. Um grande homem. Me deu conselhos que só uma pessoa como ele poderia dar.
- Seja forte. Pelas pessoas que ama e pelas que já se foram. Eles nunca terão ido embora enquanto os tiver guardados aqui. - ele apontou para meu coração e sorriu. - Tenho muito orgulho de você. E sei que seus pais também tinham.
- Sente falta delas? - perguntei, me referindo a mamãe e vovó.
- Muito mais do que imagina. - confirmou, suspirando em seguida. - Quando sua avó se foi, achei que minha vida tinha acabado também.
- Mas se mante firme.
- Porque eu sabia que minha querida gostaria que eu fosse firme por sua mãe e sua tia. E apesar da dor ainda estar comigo, a tenho em meu coração e memória. E ela de fato não foi realmente embora. - quando ele diz 'minha querida' está se referindo a minha avó.
- Não sou tão forte como o senhor.
- A dor é inevitável. Faz parte da vida. Todos vamos nos machucar em algum momento. Você só não pode viver uma dor sem fim.
- Está falando isso porque o senhor pode ir embora a qualquer momento? - pergunto, mas evito a palavra 'morte'.
- Todos nós podemos morrer a qualquer momento. - ele sorri gentilmente e beija minha bochecha. - Tenho que ir agora, querida. Seu irmão quer me mostrar alguma coisa e estou desconfiando que vai aprontar alguma. - rimos e ele vai embora.
  Me deito no jardim de casa, observando o entardecer daquela noite de terça feira. Repasso algumas vezes minha conversa com meu avô e percebo que tem razão. E do quanto estou feliz por estar aqui, por estar vivo. No meio disso, sinto alguém deitando do meu lado. Reconheço a voz imediatamente.
- Um pôr-do-sol lindo. - diz ele.
- Verdade.
- Vi seu avô, faz uns dois minutos. - comenta. Ouço o barulho bem conhecido do pacote de Doritos sendo aberto. Mas ainda assim, não olho pra Justin. - Ele é um senhor bem simpático.
- Ele é maravilhoso. - respondo.
- Você quer? - Justin estende o saco pra mim, e obviamente não recuso. Deito de lado na grama, e ficamos frente à frente. - Como está?
- Bem. - estranho a pergunta que foi feita com cautela.
- Ashley me contou que seu avô está muito doente. E fiquei preocupado. - preciso lembrar de chutar o traseiro da loira por ser tão tagarela.
- Estou bem. - é tudo que respondo. Não gosto de falar sobre esse assunto com ninguém. - E você? Já conseguiu lembrar de algo?
- Está exatamente como antes. Mas continuo tentando. Meu quarto tem muitas coisas recheadas informações importantes e estou processando todas e as ponto em ordem cronológica. Talvez isso possa ajudar.
- Pode chamar se precisar de uma mãozinha. - me ofereço e ele sorri. Ficamos alguns minutos ali. Apenas deitados, curtindo a guloseima.
- Quer sair comigo? - pergunta tão de repente que levo alguns segundos para registrar aquela informação. - Bem, pensei que a gente podia ir pra o lugar do nosso primeiro encontro. Pode ajudar.
- Nosso primeiro encontro aconteceu em outro país.
- Então podemos ir pro primeiro lugar que fomos quando chegamos aqui. Se você quiser, é claro.
- Me espera trocar de roupa? - pergunto, tentando não demonstrar o quanto estou feliz com a oferta. Ele concorda, sorridente.
- Claro. Te encontro as sete n fim da escada?
- Estarei lá.
[...]
- É um encontro. - cantarola a loira, arrumando meu cabelo.
- Não, não é. Ele só quer tentar lembrar de alguma coisa.
- Que parte do 'estou sempre certa' que você não entendeu? - pergunta, mas continua risonha. Caitlin sai do meu closet com as roupas e os sapatos. Ashley fica animada, mas me espanto com a produção. - Boa escolha, florzona. Amei a combinação.
- Ah, obrigada. - Cait agradece, toda orgulhosa.
- Gente, é sério, não exagera. - falei, mesmo sabendo que elas não ouviriam.
- Relaxa. Só confia na gente. - respondeu Caitlin.
- Isso mesmo. - continuou a loira. - Agora fica quieta que eu preciso terminar o seu cabelo e dar os retoques finais. - ela virou minha cabeça de frente para o espelho, e não ofereci resistência. De fato, quando elas terminaram de me vestir, senti que estava muito bonita. E fiquei feliz por ter confiado nelas. Peguei minha bolsa e a pus no ombro e desci as escadas. Tentei não ficar olhando muito pra Justin; ele estava muito lindo. Muito mesmo. Ele sorriu pra mim e estendeu a mão pra me ajudar a descer os últimos degraus, mesmo aquilo não sendo necessário.
- Você está muito bonita. - foi a primeira coisa que ele disse.
- Digo o mesmo pra você. - sorri de volta. - Está pronto para irmos? - perguntei.
   Depois que ele concordou, nós saímos. Como todos os meus amigos e meu irmão achavam que aquilo era um encontro, pudemos ficar com o carro esta noite. O caminho até o restaurante perto da praia foi relativamente curto, acho que devido ao fato de ele não parar de fazer perguntas. Deixei o carro perto da praça e fomos andando. Caminhamos de braços dados e percebi que aquele foi o mais próximo que cheguei dele desde a perda de memória.
- Onde vamos? - perguntou ele, alguns minutos de silêncio depois. Sorri quando paramos perto de um restaurante e de algumas outras lojinhas perto da praia.
- Tem um lugar que fomos e que, depois daquela noite, voltamos sempre que podíamos.
- Mas é compreensível que voltamos. Do jeito que gosta de comida, não seria nenhuma surpresa querer entrar no primeiro restaurante que encontra, gostar, e decidir voltar. - ele riu.
- Justin, você lembrou? - perguntei sem acreditar no que tinha ouvido. Ele parou de sorrir e parecia um pouco sem graça. Minhas esperanças foram todas pelos ares com sua resposta.
- Não, eu sinto muito. Quer dizer, eu deduzi que era, pelo que sei da sua personalidade e... Espera, porque achou que lembrei? Foi assim que aconteceu?
 Ouçam Daughtry - Wild Heart
- Foi exatamente assim que aconteceu. - afirmei. Mas resolvi deixar aquilo pra lá e o puxei delicadamente pela mão para entrarmos no estabelecimento. - Mas pra nós, isso aqui era bem mais do que um simples restaurante. - sorri de novo, resolvendo esquecer o pequeno incidente anterior.
  Justin estava curioso e animado. O garçom, que já nos conhecia, não precisou perguntar mais de duas vezes sobre o que iríamos pedir. Era um senhor gentil, que sempre arrumava os óculos de cinco em cinco minutos. Expliquei pra ele que, além da excelente comida, do conforto e ótimo atendimento, mostrei a ele o andar de cima, que tinha um pequeno espaço de leitura para os clientes que preferiam um ambiente mais calmo para comer e ler.
  Mostrei o lugar pra ele enquanto esperávamos nossa comida ficar pronta, e ele estava muito contente. Não disse pra ele que aquele era seu "restaurante" favorito devido ao espaço que agora via diante dele. Porque aquela tinha sido a mesma reação que ele teve quando esteve aqui da primeira vez. Voltamos pra mesa e comemos. Ele estava ainda mais empolgado e isso me fazia rir. Durante a conversa e algumas curiosidades que eu contava pra ele, a comida acabou mais rápido do que percebi: como sempre, é claro. O garçom deixou uma caixa de chocolates sobre a mesa e foi atender outro cliente. Justin, obviamente, não entendeu.
- Além de todas as coisas que te contei, - comecei. - aqui eles tem uma espécie de roleta russa, só que de chocolate. A graça disso é que, não importa quantas caixas você compre, nunca dá pra saber qual é gostoso ou não.
- Vamos fazer assim, então: pegamos um bombom aleatório e provamos ao mesmo tempo. Quem fizer careta perde um ponto. - propôs ele. Me perguntei se ele tinha se lembrado disso, porque se não, era isso que fazíamos sempre que estávamos aqui. - Quem fizer mais careta, vai ter que deixar a Ashley a pintar as unhas de rosa.
- Oh não! - ri, mas aceitei a aposta.
  Pegamos nossos bombons e comemos. Ele fez careta enquanto o meu chocolate era maravilhosamente doce. Quando terminamos, eu tinha perdido a aposta. Eu estava tão contente que não importei que deixaria a loira pintar minhas unhas. Ele insistiu em pagar a conta sozinho e saímos dali de barriga cheia e risonhos.
  Nós andávamos pela orla da praia, de braços dados, conversando sobre como alguns clientes nós olhavam estranho por causa das nossas risadas, quando começou a chover. No começo, eram gotas tão mínimas  que não nos importamos muito. Mas depois a chuva ficou mais forte. Quando decidimos correr até o carro, já estávamos encharcados. Ele começou a cantarolar e correr, me puxando pela mão. Decidi me deixar levar pelo momento e não me preocupar com uma futura gripe.
   Justin me segurou pela cintura com as duas mãos e me ergueu no ar, antes mesmo que eu tivesse chance de reagir. Ele estava se divertindo imensamente. E eu também. Apoiei as mãos em seus ombros e ele deu uma volta comigo naquela posição. Quando me pôs no chão, continuei com os braços apoiados em seus ombros e ele com as mãos em minha cintura. Gradativamente, não estávamos mais rindo. Observávamos os olhos um do outro, em um encantamento silencioso.
  Foi maravilhoso enquanto durou. 


Roupa do Justin: http://data2.whicdn.com/images/117818315/large.gif
Roupa da Anna: http://data1.whicdn.com/images/131080905/large.png

4 de mar. de 2015

My Dear Nerd - Heart by Heart - Capítulo 20 - Estamos Juntos?

  POV ANNA
 Tentei explicar meu ponto de vista para elas. E alguns fatos que sustentavam minha teoria.
 Caitlin entendeu, mas Sara continuou um tanto irritada.
- Essas pessoas, sinceramente, não tem nada melhor pra fazer. - comentou ela, andando ao lado de Caitlin que andava ao meu lado. Era nosso tempo vago, e foi uma surpresa agradável cruzar com Sara no corredor. Nosso destino era, como quase sempre, a área externa do campus. Sabe, a parte do jardim, que para minha felicidade, ficava próxima da biblioteca.
- Eu lembro bem da época que todos pensávamos que Justin e Britney eram mesmo um casal. Fiquei muito confusa, porque vocês pareciam ser felizes juntos. Todos achavam. - disse Cait. - Agora está tudo se encaixando muito bem. Não é porque sou sua amiga, mas, na minha opinião, eles não pareciam felizes, sabe? Ou pelo menos não o Justin. Britney tinha uma espécie de felicidade maléfica, se isso é possível.
- Então quer dizer que Emília só está seguindo os mesmos passos de Britney? Se aproximando do Justin para ferir você? - indagou Sara.
- Sim, está.
- Isso é muito infantil.
- Sim, bastante. - concordei com Sara. - É por isso que não vou me deixar abalar, pelo menos vou tentar. Já passei por isso antes, claro que não da mesma forma, mas, acho que sei como contornar a situação.
- Porque não falou pra ele sobre esse tipo de pessoas? Quer dizer, poderia ter evitado...
- Não evitaria, Cait. Só o incitaria a ir ainda mais. - discordei. - Justin é uma pessoa curiosa, não importa se ele lembra disso ou não. Eu até falaria, mas preferi que ele tivesse sua impressão dela sozinho; porque eu acreditava que ela agiria como a criatura desprezível que ela é.
- Você não esperava que ela fosse se jogar em cima dele. - Sara explicou com palavras o que eu queria dizer. Continuamos andando, e quando chegamos ao nosso destino, sentamos na grama lado a lado, e por um momento, ficamos quietas, apenas observando as pessoas passarem. Havia uma quantidade razoável de pessoas aproveitando o tempo livre por ali, assim como nós.
 Foi assim que lembrei que Sara e Justin estavam no mesmo curso, e, por tanto, na mesma classe.  Perguntei a ela sobre ele e não gostei da resposta.
- Estávamos saindo quando Emília apareceu com seu grupinho. Ela puxou ele pra longe, e o retardado me deixou plantada lá feito uma batata. - reclamou, mas acabei rindo depois. Só da afirmação final, é claro. Tentei não pensar que Justin e Emília poderiam estar em qualquer lugar, fazendo qualquer coisa e... Melhor não pensar nisso, pensei.
- Você está passando tempo demais comigo. - disse pra ela, que riu.
- Daqui a pouco, além de usar comida pra expressar como fiquei puta da vida por ele ter me largado, vou me de vestir batata-frita e cantar que sou crocante e salgadinha.
  Rimos todas. E por um longo tempo.
  Era a primeira vez que eu dava uma risada, desde o acidente de Justin.
  Sara tinha essa coisa de fazer as pessoas em volta dela rirem, e era tão natural que ela parecia não saber que era uma das pessoas mais engraçadas que já conheci.
POV JUSTIN
 Aquela garota era muito estranha. A declaração de Anna foi bem específica hoje de manhã, e entendi perfeitamente que ela se referia a Emília em gênero, número e grau.
 Apesar disso, deixei que me guiasse.
 Creio que Anna Mel estava apenas tentando me ajudar, porém, minha curiosidade me instigou a continuar. Queria constatar eu mesmo que tipo de pessoa Emília era. E a verdade, é que não tive uma boa primeira impressão dela. Ela dizia coisas como eramos grandes amigos, de como tivemos um breve romance e de como Anna Mel ficou louca de ciúmes e que eu planejava acabar com ela para ficar com Emília. Apesar de estar confuso, eu não era ingênuo. Detectei a mentira assim que a ouvi. Podia não lembrar de nada, mas sabia que era um blefe, não só pelo jeito que ela contou mas, pela reação de surpresa de seus amigos: se fosse verdade, ninguém ficaria tão surpreso daquele jeito.
 Mas ainda estava curioso sobre aquela garota mentirosa. Quando saí da sala, ao lado de Sara, fui puxado pelo braço mais uma vez por Emília. Ponderando rapidamente se deveria permitir, concluí que se passasse mais tempo com ela, poderia descobrir mais coisas.
 O fato é que ela era ainda mais mentirosa e insuportável do que constatei da primeira vez. Eram histórias loucas de como nós dois planejávamos fugir, de como eu detestava o cãozinho de Anna e da minha suposta felicidade quando Angelina tentou por fogo na bolsa de Anna Mel com Amora dentro.
 Repulsa.
 Foi o que senti por ela.
 Uma reação instintiva, e me parecia bem familiar.
 Poderia ter esquecido uma boa parte da minha vida, mas sabia que jamais seria capaz de machucar um ser vivo. Principalmente se fosse um cãozinho. Apesar do pouco tempo que passei naquela casa, me apeguei rápido demais a todos aqueles cachorros e não conseguia me imaginar feliz com a quase morte de um deles. Por mais que tentasse. Amora era a menor de todos os cães daquela casa, e assim, a mais indefesa. Se parecia com sua dona tanto no tamanho (as duas eram baixinhas) como na fofura e temperamento. E ri quando lembrei da carinha de brava que Amora fez quando a tirei de sua soneca.
 Infelizmente, Emília entendeu aquilo como um avanço significativo.
 Ela continuou falando, mas minha atenção já não estava mais nela. Meu olhar estava concentrado num grupo de jovens rindo e conversando. Muito rápido, identifiquei Sara que provavelmente contava suas piadas que sempre me faziam rir. Depois Caitlin, e por fim, Anna Mel. Havia rapazes ali, e todos riam e brincavam como se não houvesse amanhã. Um desejo louco de estar ali com eles surgiu, sendo intensificado pela vontade de bater no cara mais próximo de Anna, que estava visivelmente flertando com ela.
 Emília puxou meu braço, pedindo atenção.
- Porque está olhando para aqueles fracassados? - perguntou ela, desdenhosa. - Você costumava detestá-los. - afirmou.
- E porque eu os detestava? - perguntei, curioso por saber até onde ela iria chegar. Enquanto ela mentia, Anna acabou me vendo ali e me olhou com uma intensidade que me deixou envergonhado. Foi quando Emília segurou meu rosto e me beijou. Não durou muito porque a empurrei para longe de mim, já bem irritado.
- O que pensa que está fazendo? - questionei, demonstrando toda a minha irritação.
- Ué, eu só...
- Quer saber? Esqueça. - interrompi. - Você é uma mentirosa e egoísta. Uma garota mimada, mal criada. A conheço há poucas horas, e já tenho pena de você. Nunca mais me procure e faça o favor de esquecer que existo. - percebi que a cada palavra que ouvia, ela ficava mais furiosa, mostrando quem era de fato. Depois disso, levei uma bofetada. É. Eu já esperava por isso, esse era o motivo de não me abalar ou ficar furioso. Apenas ri o que visivelmente a deixou ainda mais irritada. Ela estendeu a mão para me bater mais uma vez, porém, segurei sua mão antes que o fizesse.
- Vai se arrepender disso, Justin. - foi tudo que disse. Fiquei feliz quando Emília foi embora, mas quando me virei, no entanto, Anna Mel já não estava mais lá.
 Sara balançava a cabeça em desaprovação, e presumi que tinha visto Emília me beijar.
 Os outros pareciam não ter percebido nada.
 Eu, no entanto, só queria localizar Anna. E pedir desculpas.
[...]
 No fim das aulas, o carro estava mais vago. Anna não foi com a gente na volta pra casa, e nem vi Sara. Presumi que estavam juntas, falando sobre coisas de garotas, ou Sara estaria dizendo como sou um bobão e ao mesmo tempo, tentando arrancar algumas risadas da amiga. Eu queria muito me desculpar com ela.
 Em casa, Mike e Damon assistiam ao basquete e faziam suas apostas. No outro canto da sala, Caitlin e Ashley estavam bastante atentas no xadrez; pelo menos, Caitlin tentava ensinar alguma coisa do jogo pra loira, que reclamava a falta de cor no tabuleiro. Entediado e preocupado com a demora de Anna, subi as escadas que levavam aos corredores de quartos com Collin e Amora em meu encalço. Foi engraçado assistir Amora tentar subir os degraus sozinha, mas conseguiu com muito esforço. Sentei perto da janela, e pensei como tive um dia e tanto. Pensei também no jeito como Anna Mel olhou para mim quando me notou perto de Emília. Ela passou de alegre para triste em um piscar de olhos. Eu me sentia muito culpado por isso. Entre esses pensamentos, vi Sara e Anna saírem juntas de um carro preto. E depois John. Presumi que tinham passado a tarde juntos, e fiquei aliviado por saber que ela estava com meus amigos. 
  Eles conversaram por alguns minutos e até deram algumas risadas. Despediram-se com um abraço e Anna entrou. Ao ouvir a voz da dona no andar de baixo, Amora foi em sua direção sem olhar pra trás.
POV ANNA
  Peguei minha cadelinha nos braços e subi as escadas, depois de levar uma bronca do meu irmão e da loira por não avisar que ia demorar. Aquilo me fez rir por dentro.
  Fiquei aliviada ao chegar no meu quarto e sentar na minha própria cama. Um lugar só meu. O problema foi que isso me fez lembrar o longo dia que tive, e que estava durando tempo demais. Procurei pensar no conselho de Sara, mas a única coisa que me vinha na cabeça era Emília beijando Justin. Eu ainda não sabia o que fazer sobre isso.
  Era uma situação muito confusa.
  Nós dois namorávamos, mas ele não lembrava disso. E como não lembrava, não achava que estava no meio de um relacionamento. O que significava, creio eu, que não tínhamos mais nada.  
   Doeu perceber aquilo.
   Meus olhos estavam marejados quando ouvi batidas na porta. Respirei fundo e deixei quem batia entrar. Era justamente quem eu menos esperava.
- Oi. - disse ele, parado na porta.
- Oi. - respondi. Justin deu um passo para dentro. Parecia bem tímido. - Você demorou pra chegar hoje.
- Eu sei.
- Ficamos preocupados.
- Sinto muito. - foi tudo que respondi.
- Quero falar com você sobre algo.
- Pode falar. - ele sentou do meu lado na cama, como se estivesse a ponto de dizer algo importante, e tudo que eu menos gostaria era de ouvi-lo falar de Emília de modo romântico.
- É sobre o que você viu hoje de manhã...
- Justin, não. - interrompi. - Não preciso ouvir isso, é obvio que vocês se entenderam e...
- Não era isso que ia dizer. - revelou ele. - Na verdade, queria pedir desculpas por aquela cena. Sinto que magoei você e não tive intenção de fazê-lo. Me desculpe, mesmo. Percebi quem aquela garota é de verdade, e nunca mais irei me aproximar dela.
- Tudo bem. - dei um sorriso sem mostrar os dentes. Fiquei feliz por ele ter vindo se desculpar mas tinha alguma coisa ali. Não tinha acabado, ainda não.
- Mas preciso dizer que estou confuso com nossa situação. Mas que fique claro que meus pedidos de desculpas permanecerão mesmo depois da resposta. - ele respirou fundo para tomar coragem e olhou fixo nos meus olhos. - Nós somos ou não namorados? - exatamente o tipo de pergunta com o tipo de resposta que estava evitando.
- Nós eramos, pelo menos até você perder a memória. - respondi, já sentindo a dor que a verdade iria provocar. Mas continuei firme.
- Ainda somos? - questionou, chegando mais perto.
- Acho que não. - respondi. E pela minha lógica, era a mais pura e dolorosa verdade. Apesar de não significar que iria desistir dele.
- Você acha? - decidi que Justin parecer decepcionado com a resposta era tudo coisa da minha cabeça. Quando afirmei que sim, ele apenas sorriu e saiu do quarto.
  Sozinha e percebendo o que tinha acabado de fazer, comecei a chorar.
[...]
  Meus dedos do pé estavam sentindo a mesma dor de todas as madrugadas famintas, de todas as vezes que vou para a cozinha no escuro e acabo batendo em tudo. Fiquei surpresa por ver a luz da sala acesa, e peguei a primeira frigideira que vi: o faqueiro estava longe demais. Fui andando na ponta dos pés, pronta para acertar o ladrão desprevinido na cabeça.
Não fui tão rápida.
Se fosse um ladrão de verdade, estaria perdida. Mas não era.
Justin me olhava assustado, segurando minha mão no ar. Mesmo surpresa, ri do susto e da felicidade por não ser um ladrão. Ele também riu, mesmo sem entender.
- Você queria ver se minha memória voltava dando outra pancada na minha cabeça? - perguntou enquanto soltava meu braço. Percebi o tom de brincadeira em sua voz.
- Pensei que fosse um ladrão.
- Ainda bem que não sou. - rimos. - Sentiu fome de novo? - perguntou.
- Na verdade, só queria tomar um chocolate quente. Isso sempre me ajuda a dormir. - respondi. Ele vestia uma blusa preta de mangas e uma calça de moletom cinza. O cabelo estava um pouco bagunçado e parecia mais bonito com aquela carinha de sono. Justin sorriu pra mim, ficando ainda mais bonito. Precisei me concentrar muito para não ficar parada como uma idiota, olhando pra ele.
- Também sem sono? Estou começando a suspeitar que isso pode ser contagioso. - brincou. Justin caminhou até a mesinha de centro e pegou uma caneca bege, estendendo-a na minha direção. - Chocolate quente. 
 A caneca estava cheia até a metade. Tomei um gole, sentindo o sabor maravilhoso que tinha. Justin andou até a porta da frente e saiu da casa. O segui ainda segurando a caneca de vidro. 
- É triste não ter nenhuma estrela esta noite. - disse ele quando parei ao seu lado. Olhei para a vastidão do céu negro que se estendia sobre nós. Não tinha nenhuma estrela, mas não deixa de ser lindo. A calmaria da madrugada deixa tudo ainda mais "mágico". - Você deveria ter visto quando elas estavam no céu. Deu até pra localizar a Ursa Menor. 
- Espero que não seja um tipo de trocadilho por a pessoa que está do seu lado ser baixinha. - brinquei, tomando outro gole do chocolate quente. Justin riu.
- Como você mesma diz: nos menores pacotes, estão os melhores salgadinhos. - ri com ele, contente por lembrar daquilo que falei por acaso há duas semanas atrás. Era um bom sinal, não era? Não de memórias reavidas, mas de sentimentos.
- Acha que ainda temos chances de ver alguma constelação hoje?
- É mais provável que apareça chuva do que estrelas. - apontou para uma nuvem imensa que se deslocava no céu. Não sei como não a notei antes. Senti as mãos dele segurarem as minhas e seus olhos observarem os meus. - Sinto muito mesmo. Eu não quero te machucar, Anna.
- Tudo bem, Justin.
- Eu realmente quero me lembrar de você. Juro que estou tentando. Sinto um vazio enorme, e nada parece fazer sentido. Odeio ter uma parte da minha vida da qual não lembro, é como um buraco no meio da estrada. Sei quem são Sara e John, mas não sei como e onde nos conhecemos. Não lembro de nenhum de vocês, nem dessa casa, nem dos cachorros. É horrível e assustador. 
- Entendo pelo que está passando. É muito triste pra todos nós, também.
- Espero que tenha paciência comigo e que me ajude com isso, porque, sinceramente, estou perdido.
- Eu sempre vou estar aqui por você.

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